Há muito que, para mim, os The Antlers foram o que de melhor me trouxe a música em 2009. Porque não me canso de ouvir esta banda, que mais parece uma versão amadurecida dos arcade fire, segue aquela que para mim é a obra prima, a transpirar uma doce melancolia por todos os poros. :)
É sempre grande a expectativa de ver um filme vencedor da palma de ouro em Cannes. Pese embora o facto de, nos últimos anos, o festival ter tido a tendência para premiar filmes políticos acima dos demais, certo é que algumas das maiores obras primas do cinema mundial foram merecedoras do galardão máximo do festival da Riviera Francesa. De qualquer modo, e tentando focar este último filme de Michael Haneke, parece-me que, no que toca ao conteúdo, não apresenta nada de novo.
Senão vejamos:
Há uma tentativa de retornar a um tema desenvolvido em Funny games, já não com adolescentes, mas sim com crianças, tentando evidenciar o seu lado patológico-cruel. Simultaneamente, quer o autor frisar, parece-me, a ideia de que as educações moralistas e ultra-disciplinadas conduzirão, inevitavelmente, aos antípodas do que com elas se pretendeu... Para isto o autor pega numa família puritana, chamemos-lhe assim, desmascarando a decadência que nela impera.
E o que é que há de tão original neste filme para que lhe seja entregue uma Palma de ouro?
Na minha opinião, nada... Seria quase como atribuir o nobel ao Saramago por ter escrito o Caim...
Se falarmos de cinema, cinema estrito, é verdade que a composição dos planos é equilibradíssima; é verdade que o preto e branco se justifica; é verdade que existe ali uma reminiscência do cinema de Bergman... Mas sem brilho, sem nada de novo no que ao argumento diz respeito...
Acrescento apenas o óbvio, ou seja, esta é a minha opinião..., o que equivalerá a dizer que, para mim, o Laço Branco será um filme que, com o tempo, esquecerei e nunca tomarei como referência...
Veio-me à ideia escrever aqui umas palavras sobre o último filme do Lars Von Trier que, aliás, considero um bom filme, salvo as repugnantes e dolorosas sinestesias que o mesmo em mim criou. Independentemente do conteúdo misógino que o mesmo encerra, e que espero apenas se deva a um estado depressivo que Trier recentemente atravessou, considero salutar que um realizador consiga exprimir tão bem por meio de imagens aquilo que lhe vai na real gana. Se é de um autor que falamos, e isso parece-me indesmentível, toda a panóplia de metáforas agonizantemente criadas para impressionar o espectador servem, só e apenas, o propósito de realçar o cariz autoral da obra. Dizer que concordo com Trier seria o mesmo que entrar em depressão, pelo que vou continuando a guardar a minha boa impressão daquilo a que alguns chamam o sexo fraco...
"críticas sobre os filmes nomeados para os óscares deste ano..."
o blog não tem tido ritmo algum, é certo, mas aproveito o desafio que aquelabruxa lançou no post anterior e deixo aqui o que penso:
A Serious Man (dos Coen) e The Blind Side, com a Sandra Bullock, são os dois filmes, dos dez nomeados, que não tive oportunidade de ver.
Estou mais curioso com o dos Coen, é uma questão de gostos. Mas vamos aos que vi.
The Hurt Locker.
Surpreendeu-me de várias maneiras e já tinha lido umas quantas críticas quando tive oportunidade de o ver. A Kathryn Bigelow captou a guerra de uma forma tão solta, tão bruta e tão real, sem nunca parecer doutrinária. A coisa é mais simples do que podemos pensar. O trabalho daqueles soldados é desmantelar bombas portanto não há um único que passe o dia sem ser em risco eminente de morrer. Mas cada cena que nos é dada serve como retrato tenso, sem heróis, sem lições de moral. A guerra é um vício e isso entende-se cedo. No centro temos três soldados. Um que já está a entrar numa previsível fase pós-traumática, um segundo que é profissional e que tem, genuinamente, medo de morrer, e um terceiro (Jeremy Renner, uma nomeação ao óscar que apreciei especialmente) que já está para lá de salvação. É melhor soldado principalmente porque parece já ter morrido. A guerra é um vício. E o que nós temos é o dia a dia de um conflito que implica choque cultural (e isso é-nos mostrado), tensão (e temo-la constantemente), horror que não é gratuito e lições nada condescendentes. A guerra também pode ser mais monótona do que o cinema costuma mostrar e há uma cena no deserto em particular que capta isso na perfeição. A fotografia é fantástica e a Bigelow consegue, sendo tecnicamente excelente, nunca deixar de ser discreta e dar espaço aos seus actores. É um forte candidato e não me chateia, de todo, se vencer.
Avatar
Avatar é o óbvio. O James Cameron tem uma capacidade muito grande de estoirar orçamentos, garantindo espectáculo. MAs não é à la Michael Bay, nada disos, porque o Cameron é verdadeiramente inteligente. Basta pensar no Terminator 22 e ver que há humanismo naquele robot e que no centro da história está uma relação de mãe e filho que sobrevive a tudo o resto. Pensa-se no Titanic (que, pessoalmente, não suporto) e há imponência técnica mas no centro está sempre a história de amor. Avatar é, sem dúvida alguma, um portento técnico. É uma experiência rara em 3D e que não deve ser colocada de lado. É um verdadeiro acontecimento nesse sentido que toda a gente deve ver. E continuam a lá estar noções muito terra-a-terra (amor, o (des)_conhecimento do outro, etc.). Mas em termos de história é básico, profundamente báscio. Aconselho toda a gente a ver o filme, sem dúvida. Não o tratem é como uma história por aí além, porque não é. E não se trata de simples comparações a Pocahontas, Danças com Lobos e mais dez mil histórias semelhantes que já se viram, é algo mais do que isso, é a ironia de haver tanta tecnologia a ensinar-nos a respeitar a natureza, são as interpretações que desaparecem por trás do azul e é, naturalmetne, todo o hype típico de pop cultura que tiraniza o filme. Avatar deve ser desmistificado. Fantástico, que é, em pormenores técnicos, é uma história simples e, na melhor das hipóteses, mediana. Não é à toa que não é nomeada em argumento, nem actores. Se ganhar melhor filme é porque tem mais fama do que nível. Merece muito óscar mas quero ver quem vai acusar o Slumdog de ser básico caso o óscar vá para avatar. Tem muito mérito, mas há que discernir as coisas, apenas isso.
An Education
Óptimo. Um boa surpresa (daquelas que se tem quando não se sabe o que esperar). O argumento é subtil e de uma força e de uma inteligência intocáveis. Não é um filme particularmente complexo e não tem grandes hipóteses de ganhar. Mas também não é nada óbvio e não incomoda nada vê-lo na lista. A realização é talvez a mais discreta entre todos os nomeados e não é por isso que é menor, pelo contrário, porque aqui importa aproveitar os diálogos (Inglaterra, anos 60, no sotaque e no conservadorismo), as interpretações e a forma como as personagens vão mudando e ajustando à nossa frente. É um filme com muita coisa coquette à mistura, mas sem cair no óbvio. E Carey Mulligan é uma excelente descoberta enquanto actriz. Eu não a conhecia. Agora dou-lhe atenção. E ela também merece a nomeação.
District 9
A razão pela qual este ano há dez nomeados é precisamente por este tipo de filme. Este é o sci-fi que chegou aos óscares. Se tivesse sido o Star Trek também não me incomodava nada. Em comum têm o facto de serem dois blockbusters com cabeça, mostrando que nem toda a gente tem de ser oca perante o grande ecrã. E que o entretenimento pode ser puro, ritmado e explosivo, sem ter de ser burro (ocorre-me o aborto de filme que é o GiJoe - não importa aqui referir por que o vi -; não falo do Transformers 2 porque evitei ver). District 9 tem algumas novidades no sci-fi mainstream. Dá-nos aliens que não queriam cá estar mas que estão cá preso e que passados anos se tornaram refugiados. Estes refugiados representam muito que são as guerras no nosso mundo mas ali, na África do Sul qua saiu do Apartheid, são também um ponto de partida excelente para comparar e até satirizar o racismo - mais aidna quando o racismo é, mais do que um sentimento, uma convenção. O actor principal, Sharlo Copley, está excelente e este é o tipo de blockbsuster que é giro ouvir comentários quando se sai da sala de cinema. Eu tive o prazer de ouvir cosias hilariantes como "Ah aquilo parece tudo irreal" (como se ser plausível fosse uma obrigação do cinema). Falo por mim mas acho que muita gente viu District 9 ao engano. Pensando que era só seriedade - e não é, ou que era só entretenimento - coisa que também não é. O filme tem mensagens políticas sem se eprder nisso, tem emoção sem se tornar absurdo ou lamechas, tem espectáculo sem viver apenas disso. É uma lição autêntica que se dá Hollywood: como fazer um blockbuster com menos dinheiro? APenas com inteligência e um argumento capazes de outros voos. MErece a nomeação e é um gozo de filme.
Precious
Precious é perigoso. Porque tem tanto drama e tanto sofrimento poderia ser visto como simples dramalhão, cheio de boas intenções, muito moralismo e um final feliz. Valha-nos o facto de ser muito mais ambíguo do que isso. É um filme de outra américa negra, a do gueto, mais pobre, com muita história de subsídios, abusos e oportunidades perdidas à mistura. Não gostei de uns quantos pormenores na realização (os sonhos da Precious, armada em super-estrela, por exemplo - pareceu-me à pedreiro), mas o filme é excelente porque nem tudo combina e está cheio de imperfeições. O filme não nos obriga a aceitar como bonito o que não achamos bonito. Pelo contrário. É mesmo a história de como o grotescto se assume sensível. Precious não é apenas obesa. Foi violada pelo pai, tem uma filha mongolóide, outro bebé a caminho. Ambos filhos do pai dela. A mãe agride-a e acha que esta lhe roubou o homem. Ela é gozada, é pobre e nem na escola deve poder ficar. E até a vemos a roubar um balde nojento de frango gorduroso, logo pela manhã, para depois acabar a vomitar. Novamente, nada na personagem é suposto ser bonito mas cativa-nos assim mesmo. Precious e a mãe têm duas bem merecidas nomeações como actrizes. Mariah Carey,q ue não suporto como cantora ou actriz, está verdadeiramente surpreendente. E há aqui muito humanismo. É imperfeito e, passe o óbvio, humano. Virou fenómeno indie mas isso é um pormenor. Não deve servir como poster-boy para o cinema indie (há melhor) mas não deve perder o seu mérito. Porque o tem. Se ganhar, também não chateia. É hollywood a mostrar-nos que sabe dar valor à diferença. E isso vale a pena.
Inglourious Basterds.
É o meu favorito. Nem me interessa que ganhe os óscares porque já acho piada o Tarantino lá estar. Cada plano, cada personagem, cada cena de Basterds é razão para se falar de Cinema. Cabe ali tudo, da história do cinema ao ecletismo do próprio Tarantino. Por ser um filme de guerra e por ser de Tarantino, talvez muita gente estivesse à espera de algo diferente. A verdade é que os basterds propriamente ditos aparecem pouco e passamos o filme praticamente todo em conversa. Mas é um tributo raro ao cinema. Realizadores alemães e pormenores de diálogos (os franceses respeitam o cinema, os americanos não), um jogo com muito cinema à mistura, um crítico de cinema que é herói de guerra, bobines a tentar mudar o curso da história, um filme de propaganda nazi feito por um judeu (Roth), tudo aqui é cinema e é Tarantino no seu estado de graça. Adoro tudo o que o Tarantino fez (é mesmo de adoro para cima, o que acho do cinema dele), mas ele atinge aqui o topo. É absolutamente genial, isto com todos os prolongados diálogos, a curiosa divisão por capítulos (Tarantino já a transformar-se em escritor) e quase-ausência de combates num filme de guerra. Foi para mim o melhor de 2009 e ponho-o em qualqeur lsita da década (coisa que já será muito discutível, mas o bom do cinema e o bom do cinema de Tarantino em particular é precisamente essa discussão que provoca). Quando disso no início que não me interessa se ganha os óscares, estava a mentir. PElo menos, em parte. A excepção é Christoph Waltz, o Coronel Hans Landa. Se há um óscar que está dado À partida é este. É uma interpretação que fará história, numa personagem que fará também história. É insulto se Waltz não ganhar o Óscar.
UP
O ano passado Wall-e poderia perfeitamente ter ganho o Óscar de melhor filme. UP surge depois de Wall-e e tem o mérito de sobreviver, dignamente, ao anterior. A Pixar dá-nos lições sobre o potencial do cinema de animação. Traz-nos histórias de outro calibre, com personagens incomuns e argumentos inteligentes. São filmes que, mais do que quaisquer outros, são para jovens e graúdos - passe o cliché. UP não respeita só essa linhagem da Pixar como é do melhor que já fizeram. É hilariatne, ritmado, sabe trabalhar com o 3D sem nunca eprder a sua força narrativa, tem personagens tremendamente bem conseguidas, comic reliefs e lições (nada demagógicas) oportunas. Já ganhou o óscar de melhor de animação (com o Ponyo a não marcar presença nem valia a pena discutir-se mais nada) e é merecida a presença aqui. Serve de exemplo e compensa a ausência do Wall-e na lista do ano passado. Apesar de toda a sua força e consistência apetece lembrar a primeira cena de UP, em que vemos a vida do casal, apenas com música, sem diálogos numa história de uma vida condensada em poucos minutos, só com a força das expressões das personagens. Cinema é também aquela força e aquela capacidade. UP, se não for o melhor, tem pelo menos a melhor cena de 2009 - e das mais especiais dos últimos anos. É verdade, Pixar did it again. Up in the Air
Jason Reitman não deve ser menosprezado. O homem é inteligentíssimo. Thank you for smoking era boa amostra e logo numa américa tão hipócrita e higienizante com o tabaco. Seguiu-se Juno, a história da adolescente que engravida, premissa tão simples trabalhada com drama e humor da melhor das maneiras. E agora mais um passo à frente, com up in the air. O filme é brutalmente oportuno (resta saber que força terá daqui a uns anos. Continuará a ser tão original?). Tem o melhor George Clooney de sempre - e não, ele não é sequer banal, como muita gente o pinta. E o filme nunca é óbvio. Quando se parece aproximar perigosamente da comédia romântica, Reitman supreende-nos. Tem sentido de humor e drama a conviver, e bem, lado a lado. E é um exceletne exercício sobre a solidão, sobre os tempos actuais em que o trabalho nos consome mais do que se imagina. É sobre relações e aparências, também. E é um livro em aberto, com muito para se concluir, numa jogada inteligente por parte de REetman. É daqueles filmes que se aconselha com algum à vontade às pessoas. A seguir a avatar e hurt locker é talvez o terceiro candidato mais forte aos Óscares. É capaz de não ganhar. Mas se ganhasse também não aborrecia ninguém.
E é isto. Os textos são capazes de estar longos e ter alguns erros (falta de "releitura", tss tss). Mas foi o que se arranjou.
Mr. E (Mark Oliver Everett para as finanças) tem uma voz carregada de vida; incomum. Se o ritmo é forte a voz parece desbragada, se a música é triste já não é bem uma voz - é alguém despedaçado que nos decidiu contar coisas.
Tenho várias bandas preferidas/favoritas/que adoro. Mas Eels sempre foi diferente. Pela simplicidade, pelo humanismo, até por uma certa ingenuidade nas letras. Às vezes apetece apenas dizer que é bonito, mas a palavra, tantas vezes mal gasta, perde a sua força.
Os Eels, como executantes, nunca foram uma banda excepcional. Nunca serão um sucesso à escala planetária nem têm a genialidade que lhes permita sobreviver aos séculos, intocáveis. Mas diz(-me) qualquer coisa que não é indiferente. Que dá vontade de acompanhar. Depois de alguns anos sem música, voltaram em 2009 em excelente ritmo, com Hombre Lobo. Álbum rápido, quase imparável, e invariavelmente capaz de nos fazer mexer. A postura meio perdida, quase abandonada, não coube lá como costuma caber. Parece ter ficado reservada para este End Times. O álbum chegou agora (às lojas portuguesas há-de chegar na próxima semana) e a primeira amostra é Little Bird.
O vídeo é uma única cena. Vemos Mr. E sentado numa cadeira, só com a guitarra. A câmara aproxima-se e durante poucos minutos podemos ouvi-lo. E é só.
Diz-me o senso comum que a receita para um bom musical é um bom argumento, canções, banda-sonora e actores-cantores. O que é que tem Nine? Péssimo argumento, insípidas canções, desgarrada banda-sonora e bons actores, apesar de metade deles terem tanto jeito para o canto como eu para o tricô.
As expectativas eram elevadas, é certo. Gostei bastante do Chicago , e o elenco folhudo em estrelas consagradas e a inspiração em Fellini prometia um musical em grande. Mas não, é tudo demasiado esquemático, quadrado e pouco subtil numa história esculpida a rebarbadora. O gigante Daniel Day Lewis carrega o filme às costas mas na parte das cantorias estatela-se ao comprido. As músicas, todas elas estranhas e secas não entusiasmam e são completamente ocas.
De positivo, destaca-se a cena da Fergie e Marion Cottilard que continua a espalhar charme e talento pelo grande ecrã.
Nine sabe a pouco. Não que o folclore espampanante de Rob Marshall não encha a vista. Apenas queríamos um pouco mais de qualidade.
2009 acabou mas há coisas a reter. Enquanto não publicamos a nossa surpresa da praxe, dou um bocadinho de atenção ao que já lá vai. Parece invulgar ao início, esta Pop desconstruída. Mas Micachu nunca se perde, recupera o rumo e dá-nos ritmo, em doses curtas, sempre fulminantes. tudo isto estranha e deliciosamente catchy. A combinação é explosiva e o resultado é o que se costuma descrever como "é obra". É mesmo. O álbum chama-se Jewellry e esta música é só um cheirinho.
Obrigado ao [leitor e comentador blogueiro] Simão pela dica.Vale muito a pena, sim senhor. Podem espreitar o Simão aqui.
Entrados em 2010, constata-se que esta música já tem dez anos, o que me deixa com uma certa vontade de usar pijamas de turco, chinelos de lã e xailes de cachemira, enquanto a ouço, já não na pista do Lux, mas rente à minha confortável lareira...
Com direito a entrada directa para o baú das velharias, um tema hip-hop, com a voz da Miss Kittin, bem diferente do tom "sandwicheiro" que pautou a carreira destes senhores.
Tinha que ser. Também eu tinha que fazer uma lista com os melhores desta década que hoje chega ao fim. São apenas 25, em vez de 50, 100 ou 200, como muito boa gente anda a fazer. Reflectem os meus gostos pessoais - filmes que simplesmente adoro ver e rever, filmes que me comoveram para além da minha própria compreensão ou filmes que são obras de arte imaculadas, que esticam e redefinem os domínios desta nobre arte. E acima de tudo, filmes com momentos e sensações, que se perpetuam na minha memória cinéfila.
*drumroll*
Só o primeiro está destacado. Nos outros a ordem é aleatória, dependendo do meu humor ao acordar. Não há realizadores repetidos.
- "The New World" de Terrence Malick
- "A History of Violence" de David Cronenberg
- "There Will be Blood" de P.T. Anderson
- "Kill Bill" de Quentin Tarantino
- "The Wrestler" de Darren Aronofsky
- "De Battre Mon Coeur s'arrête" de Jacques Audiard
- "No Country for Old Men" de Joel & Ethan Coen
- "Million Dollar Baby" de Clint Eastwood
- "Hunger" de Steve McQueen
- "Le Scaphandre et le Papillon" de Julian Schnabel
Depois de muito ponderar, e em parte devido à longa espera que me aguarda pela 3ª Temporada da suculenta "True Blood" e 4ª Temporada da majestosa "Mad Men", resolvi atirar-me, finalmente para "The Wire". Já tinha lido inúmeras recomendações e o feedback era sempre a roçar a devoção. E se não é a série mais originalmente dramática jamais criada, é sem sombra de dúvidas um grandioso opus sobre o mundo criminal numa grande e sórdida metrópole americana, neste caso, Baltimore. Com um elenco praticamente desconhecido, trabalha num enredo cheio de pequenas nuances sinuosas, não tirando partido entre as forças policiais e os vários barões e peões do submundo. E por isso mesmo, é consistentemente interessante e multifacetada, batendo aos pontos muitas obras cinematográficas que abordam este "género", pois estas não têm a dedicação que uma série pode e consegue dar. Fica a recomendação.
Fantastic Mr. Fox numa sala (de estar) perto de si
Conhecem o filme Fantastic Mr. Fox? Aquele de animação do Wes Anderson, o senhor por detrás do Life Aquatic with Steve Zissou e Darjeeling Limited? Com vozes de George Clooney, Meryl Streep, William Dafoe, Bill Murray entre outros? Lembram-se? Pois então se não foram daqueles que foram ver o filme ao European Film Festival podem esquecer a ida ao cinema. As nossas distribuidoras decidiram, do alto da sua perspicácia e inteligência, enviar o filme directamente para dvd. Já estou a imaginar a conversa:
- "O que? Cinema de autor em animação? Aah, essa porcaria não vende bilhetes"
E pronto, é isto o nosso pequeno país. Alguém conhece algum site porreiro de torrents?
A todos os que estão embriagados com o espírito natalício, aqui vai um presente. Para que se perceba que o Natal não são só as prendas... Ho ho ho.
Toda esta sequência faz parte do especial de Natal que a série It's Always Sunny In Philadelphia fez este ano. Acabei há pouco tempo de ver as 5 temporadas e tenho de sublinhar o facto desta ser uma série de comédia sem paralelo. Ignora todas as convenções, põe de parte os pudores e mistura as linhas do politicamente incorrecto com o que é, pura e simplesmente, gratuito. Mas meus amigos, a classe com que estes senhores roçam o ordinário é para poucos.
Merry Christmas. And go fuck yourselves in your fat fucking asses!
Chuck Norris, a lenda chunga e o seu QI de abóbora
Chuck Norris: uma lenda da televisão e do cinema trash. Quem não se lembra do Walker, o Rei do Texas e do seu amigo Trivette que fizeram furor na década de 80 e 90, ou dos 56 “Desaparecido em Combate”?
O homem é tão grande que ia ganhando uma votação popular para dar o nome a uma ponte em Budapeste. Mas ao que parece, depois de liderar a sondagem com larga vantagem, os Sócrates lá do sítio decidiram mudar os moldes e escolheram o nome Megyeri, nome da localidade. Convenhamos que “Ponte Chuck Norris” era outro nível, mas eles já sabem.
Mas porque trazer para a ribalta do Take a Break este ídolo chunga? Porque pelos vistos o senhor agora é analista político. Feroz critico do Obama, o Ranger do Texas diz, a propósito da reforma do sistema de saúde, que com este plano Jesus não tinha nascido porque Maria teria provavelmente abortado…
….
….
Enfim… fiquem com o genérico do Walker, o Ranger do Texas. Pelos vistos o senhor só é mesmo bom em dar pontapés e usar penteados mal amanhados.
Há coisas que se descobrem mais tarde do que a restante humanidade. Pouco importa. Directamente do portal onde há de tudo, já visto mais de 43 milhões de vezes, apresento-vos Charlie the Unicorn. Estou convencido de que foi feito logo a seguir uma trip de LSD.
punk, do bom. Jello Biafra, activista político dos que levam a coisa muito a sério.
Genuíno, ingénuo, forte, gozão, muita coisa cabe em Dead Kennedys - tal como em Jello Biafra, o homem-mentor da banda. Ele vai estar cá já esta noite. Infelizmente não vou poder vê-lo com a sua nova banda (The Guantanamo School of Medicine, nome sugestivo) mas nada me impede de recordar.
Pull My Strings, do álbum Give Me Convenience or Give Me Death. ( letra está mais abaixo)
"Pull My Strings"
I'm tired of self respect I can't afford a car I wanna be a prefab superstar
I wanna be a tool Don't need no soul Wanna make big money Playing rock and roll
I'll make my music boring I'll play my music slow I ain't no artist, I'm a business man No ideas of my own
I won't offend Or rock the boat Just sex and drugs And rock and roll
Drool, drool, drool, drool, drool, drool My Payola! Drool, drool, drool, drool, drool, drool My Payola!
You'll pay ten bucks to see me On a fifteen foot high stage Fatass bouncers kick the shit Out of kids who try to dance
If my friends say I've lost my guts I'll laugh and say That's rock and roll
But there's just one problem
[Chorus] Is my cock big enough Is my brain small enough For you to make me a star Give me a toot, I'll sell you my soul Pull my strings and I'll go far
And when I'm rich And meet Bob Hope We'll shoot some golf And shoot some dope
Is my cock big enough? Is my brain small enough? [Repeat chorus, etc. etc.]
(letra tirada daqui - foi o primeiro resultado no google...)
É a década dos zeros. E naturalmente que já proliferam as listas. A Rolling Stone (jornalismo de peso, sempre; críticas musicais, bem, já gostei mais) já fez a sua lista.
Podem vê-la aqui e parar de ler o texto - pelo menos se o epíteto de spoiler se aplica ao que se segue.
Mas eu digo já tudo. A RS diz que o melhor álbum da década é o Kid A, dos Radiohead. O álbum é brilhante, sem dúvida. Mas em 1998 (ou foi em 97?) os Radiohead lançaram OK Computer, que é brilhante, com "mais um bocadinho assim". Eu ainda não sei qual é que eu acho que é o melhor da década. Mas o que a RS fez não se faz. É que o melhor álbum dos Radiohead é o OK Computer. E se Kid A é o melhor da década dos zeros, então os anos 90 foram melhores do que estes... E isso é uma coisa triste de se ouvir.
O título que acabo de engendrar para este escrito, apesar de sugestivamente idiota por falta de melhor imaginação, sintetiza o cliché sobre o qual me debruçarei nas próximas linhas, aliás, com a avidez típica de quem se ampara em clichés. De qualquer modo, começando por dizer que não gosto de clichés, aproveito também para afirmar que gosto de lugares comuns, os quais, no meu léxico muito pessoal e até um pouco autista, são totalmente diferentes dos primeiros. Ainda assim, e para não escapar às brilhantes linhas com que intitulei este post, até porque falar sobre a dicotomia cliché/lugar comum não interessa nem ao menino jesus, vou brevemente iniciar a minha dissertação sobre o tema a que inicialmente me propûs, pese o facto de achar que o mesmo, embora também não interessando ao menino jesus, é capaz (sublinho, capaz) de interessar a alguns leitores deste blog.
"Um filme é um filme", dizia o senhor José Lino Grünwald numa antologia de críticas cinematográficas, escrita durante os anos sessenta e publicada uns bons anos mais tarde. Embora o título desse livro possa signficar que o cinema é uma realidade autónoma das restantes enquanto forma de arte, porventura o mesmo não terá passado de um decalque de um filme do Godard, razão que me leva a admirar ainda mais o título que escolhi para este post, aparentemente ao nível de génios como o Zé Lino, idiota pretensioso da crítica brasileira.
De qualquer forma, deixando-me de idiotices verborreicas e, debruçando-me nas fabulosas ideias de quem, sendo ainda mais idiota que o Zé Lino, considera que a juventude está perdida porque vê filmes quando devia ler livros, vou aproveitar para falar sobre uns e outros, dando naturalmente a minha opinião que, embora não editada em formato de papel, tenho fé que, daqui por uns milénios, venha a ser encontrada por um arqueólogo cibernáutico da próxima espécie dominante e a ter até mais valor que a do Zé Lino, dado que, nessa altura, ainda ninguém teria visto a Regra do Jogo do Renoir.
"Um filme é um filme" parece-me bem, como conceito, atente-se. Muito sinteticamente, a capacidade sinestésica do cinema concorre com a explanação de uma narrativa em plano paralelo. Ou seja, quando vemos um filme, quado ouvimos um filme, quando sentimos um filme, não conseguimos individualizar a sub-arte que o integra, absorvendo, no entanto, o seu todo. Não é só a música, só a côr, só a composição, só os efeitos sonoros que lemos individualmente, mas o que todos esses elementos representam em conjugação.
Um livro, por seu turno, também é um livro. É um conjunto de páginas que, através de uma linguagem própria e muito diferente da do cinema, serve para contar uma história.
Pontos que têm em comum: Se a linguagem não for bem usada, a história, por melhor que seja, perde o interesse. Por exemplo, se o autor de um livro usar frases tão compridas como as que tenho usado neste post duvido que alguém tenha pachorra para o ler. Por seu turno, se o autor de um filme cortar aleatoriamente com uma tesoura, não creio que alguém consiga ver o seu filme ou, se o vir, não venha a sofrer um ataque de náuseas.
Pontos que não têm em comum: Todos os demais, embora sinteticamente pense que os livros estimulam a imaginação, enquanto que os filmes, para lá disso, estimulam principalmente os sentidos.
Gosto de ler livros e de ver filmes. No entanto, enscandalosamente, aprecio mais os segundos. De qulquer modo, não tenho o hábito de ler os livros dos filmes que vejo ou vice-versa, salvo quatro ou cinco excepções, pelo que não me posso incluir no lote daqueles que têm por missão dizer frases como: "Um livro tão bom e um filme tão bera!..."; ou então: "Este realizador tem mesmo o péssimo hábito de assassinar livros!"
No que toca às excepções, encontro apenas um livro que me deu bem mais prazer a ler do que a ver em filme: "O Amante", escrito pela Marguerite Duras e realizado pelo Jean-Jacques Annaud. Porquê? Porque aquela mulher escreve como um anjo e aquele homem apenas realiza como um terráqueo; porque é um filme sem grandes estímulos visuais ou auditivos; porque é um livro com uma escrita intimista, voyeurista, deambolante, coisa que o filme, por pecado de mau uso da linguagem, não conseguiu atingir...
E se tivesse atingido? Será que nessa altura gostaria mais do filme do que do livro (perguntam os prováveis dois leitores deste blog que conseguiram ler este texto até ao fim)? Neste caso não, penso, mas na maioria dos casos parece-me que sim...
Ps: Desculpem a forma menos coloquial e até um pouco infeliz com que este post foi escrito, mas nem todos podemos ter as virtudes de um qualquer Zé Lino...
Por altura do 20º aniversário a Empire resolveu homenagear algumas das personagens que marcaram o cinema nas últimas 2 décadas. Como? Convidando os actores que lhes deram vida para uma produção fotográfica onde os voltariam a representar. O resultado é brutal. Seguem abaixo as minhas favoritas. As restantes fotos podem ser vistas aqui .