
Confesso desde já que nunca fui grande fã da saga de James Bond, e por isso mesmo toda a controvérsia que envolveu a escolha de Daniel Craig para o papel passou-me completamente ao lado. Apenas me custava um pouco a entender porque é que tão boa gente tinha tantas reticências em relação a Craig, uma vez que sempre me pareceu um actor com talento e carisma, como o comprovam títulos tão distintos como Road to Perdition, Layer Cake ou Munique. Seja como for, não é certamente por ele que depois de ter visto Casino Royale me mantenho perfeitamente indiferente a toda a série.
Talvez o problema de James Bond seja precisamente o de ser tão... James Bond. Com isto, quero dizer apenas que ao fim de 21 capítulos, e mesmo depois das suspostas renovações e reinvenções da personagem que se tentaram aquando da criação do novo filme, já nada surpreende minimamente nas missões de 007, tão excessivamente presas a ideias preconcebidas que se têm vindo a arrastar nos ecrãs desde 1962. Não pode haver um James Bond sem Bond Girls traiçoeiras, sem fatos catitas, sem Aston Martins ou BMW, sem “Bond... James Bond”. Claro que se esses elementos faltassem, não estaríamos certamente a falar de um James Bond, mas no que me diz respeito, isso até poderia ser bom.
Baseado directamente num livro de Ian Fleming, Casino Royale propõe um olhar virgem sobre a personagem(mas não, pelo que parece, na forma como lida com as suas Bond Girls), ou seja, descobrimos como James Bond se tornou num 007. A trama envolve-o com Le Chiffre (Mads Mikkelsen), um apostador da bolsa que, após perder uma avultada soma para os seus clientes fruto de planos maquiavélicos que deram para o torto (graças à intervenção do nosso herói), organiza um torneio de poker que envolve milhões de dólares e que tem de vencer a todo o custo, mas claro que encontra em Bond um adversário de peso. Para o assistir, Bond conta com a preciosa ajuda de Vesper Lynd (Eva Green), isto depois de ter passado uma noite sexy com Solange (Catalina Murino)...
Enfim, o resultado final é mais do mesmo e nem esse esforço de mudança é suficiente para converter os descrentes, chegando inclusivamente a cair a espaços em auto-referências completamente desenquadradas do contexto – ainda que algumas delas funcionem, humorísticamente falando. Aliás, será precisamente aí que residem os momentos mais inspirados do filme, mantendo-se o lado irónico e mordaz da personagem perfeitamente intacto. Pena é que isso não chegue para se passarem bem as duas horas e vinte minutos de filme e, se exceptuarmos um tenso jogo de poker, pouco mais de relevante há a destacar nesta nova aventura. Nem as (longas) cenas de acção atingem grandes níveis de espectacularidade, tornando-se mesmo monótonas (!) a espaços, talvez resultado de uma realização algo desensabida por parte de Martin Campbell, nem a trama se chega a revelar suficientemente interessante, nem mesmo o vilão composto por Mikkelsen é suficientemente ameaçador (e quem viu Carne Fresca Procura-se saberá certamente o quão sinistro o actor dinamarquês consegue ser, e em Casino Royale só chega lá perto quando tem uma corda na mão) para nos tirar o sono, nem Eva Green é tão bem aproveitada como deveria. Seja como for, é muito provável que agrade aos fãs da série, embora duvide que atraia muitos mais, e sinceramente a mim é-me completamente indiferente. Como em tudo, isto é uma questão de gosto, e pessoalmente inclino-me mais para a saga de Missão: Impossível, por exemplo, e para referir uma estreia do presente ano. No final, e penso que esta opinião é quase generalizada, o melhor mesmo acaba por ser Craig... Daniel Craig.
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Lamento mas não concordo muito caro Paulo. Na minha opinião, Casino Royale cumpre bem aquilo a que se pretende :) E Eva Green é a maior lol Abraço