segunda-feira, março 13, 2006
History of Violence



David Cronenberg é um dos realizadores mais conceitados mas, simultaneamente, mais controversos do cinema mundial. Conhecendo pouca da sua obra, a verdade é que a recepção no festival de Cannes foi bastante positiva devido ao facto de History of Violence ser considerado um dos filmes mais acessíveis do realizador. Não pensem, contudo, que se trata de um filme fácil, pois não é.

History of Violence é a história de Tom Stall, um homem bem casado, dono de um café que um dia se torna famoso por enfrentar dois criminosos que, assaltando o seu café, põe em risco a sua vida e a dos seus empregados. Sendo considerado um herói nacional, Tom é motivo de bastante curiosidade pela imprensa que vêm nele um exemplo a seguir. Contudo, em virtude de tamanha atenção mediática, surgem dois homens dizendo conhecer Stall há algum tempo, onde este fora um perigoso criminoso. Verdade ou Mentira? Confusão ou Vingança? É deste ponto que o filme parte, e é a partir daqui que o filme começa a ganhar contornos de obra-prima.

A nova obra de Cronenberg é um filme que se centra na ambiguidade, nunca dando contornos muito nítidos sobre aquilo que estamos a ver. E nisso, o Poster do filme é extraordinário, na medida em que consegue espelhar de forma incrível o que se passa durante o filme. De facto, a arma, escondendo parte da cara de Mortensen, revela-nos um lado obscuro desconhecido da personagem que é explorado de forma exímia por Cronenberg. Na verdade, o tentar esconder dessa “segunda cara” espelha nitidamente a ideia de “sonho americano”, a ideia de uma segunda oportunidade que a vida nos dá. No entanto, o realizador dá-nos a sua visão pessimista, demonstrando que mais tarde ou mais cedo o passado regressa para nos responsabilizar pelos actos que nós já julgávamos perdidos no tempo. É exactamente neste confronto com o passado que o filme é transcendente. A carga emotiva presente em quase todas as cenas dos filmes é incrível e nós, telespectadores, conseguimos sentir a dor, a raiva e o delírio das personagens, como se estas fossem extensões de nós mesmos.


Porém, nesta verosimilhança, os grandes responsáveis são os actores e o realizador de History of Violence. Viggo Mortensen tem aqui o papel da sua vida. Longe do insípido Aragon, o actor revela uma contenção dramática surpreendente tendo em conta o que tínhamos visto dele. Este é um dos pontos mais positivos de Cronenberg, que consegue retirar dos seus actores o melhor deles mesmo. Exemplo categórico é actuação de Maria Bello. Sendo escandalosa a sua não nomeação ao Óscar, a verdade é que Bello tem um desempenho devastador enquanto esposa que redescobre o seu marido. Em termos cinéticos muito bem, o seu desempenho destaca-se pela expressividade dramática da actriz, que tem aqui o melhor papel da sua carreira e, seguramente, um dos melhores do ano.

No que se relaciona com Ed Harris, este está igual a si próprio, ou seja, um grande desempenho de um excelente desempenho. Contudo, William Hurt consegue roubar todas as atenções com a sua actuação. Dono de uma insanidade controlada pincelada com um humor sarcástico, a sua composição é cabal. Sendo uma figura atípica, tendo em conta os esquemas utilizados em personagens semelhantes, o seu desempenho destaca-se de forma natural e a sua nomeação surge como inevitável.

Por último, mas não menos importante – David Cronenberg. De uma solidez incrível, e de uma visão assustadoramente real, Cronenberg realiza este filme de uma forma exímia, conseguindo mexer com os sentimentos dos espectadores. Uma das cenas mais marcantes é, de facto, a cena final do filme. Excluindo-se os diálogos, a esta cena é incrível na forma como consegue comunicar uma miscelânea de sentimentos que tão bem são transmitidos pelos actores e captado por Cronenberg. Ficando, na minha opinião, na galeria das melhores cenas de sempre, esta é o culminar de uma extraordinária obra-prima.

Por último, uma reflexão: Será History of Violence assim tão violento? Seguramente que o é, não tanto pelo sangue que demonstra, mas pela dor que se sente.

Classificação:
posted by P.R @ 10:21 da tarde  
1 Comments:
  • At 8:59 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Irei vê-lo em breve quando (finalmente) estrear a nível nacional.
    Viggo Mortensen no papel de uma vida? Ele tem muito boas prestações em outros filmes mas este último Cronenberg é de facto promissor.
    Depois de ler a tua crítica creio que ñ sairei desapontada...

     
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