sexta-feira, abril 20, 2007
Indie Lisboa | A Scanner Darkly

Começou ontem a 4ª edição do festival Indie Lisboa. A abertura oficial decorreu no São Jorge com “Life in Loops: A Megacities Remix” (hoje apresentado em filme-concerto), mas outros títulos foram exibidos nas várias salas onde o festival decorre e deter-me-ei aqui no que elegi para começar estes dias de festival. “A Scanner Darkly”, adaptação de Richard Linklater da obra de Phillip K. Dick, filme do qual já se ouve e se lê por cá há muito, em meses de incerteza no que tocava à sua estreia em cinema. Recentemente foi confirmado que o filme seria lançado directamente em dvd, mas o Indie proporciona duas oportunidades únicas para o apreciar em sala.

“A Scanner Darkly” remete-nos em primeiríssimo lugar para um outro filme de Linklater, “Waking Life” (2001), onde pela primeira vez usou a rotoscopia. O filme foi filmado com actores e as imagens foram depois desenhadas, de forma a que o resultado final de assemelha a uma animação de carne e osso. O aspecto formal do filme é pois a razão primeira do seu interesse, mas convém não esquecer onde bebeu, isto é, o livro. A Scanner Darkly, editado em Portugal como O Homem Duplo (pelo que consta numa má tradução, mas confesso que ainda não tive oportunidade de o ler), saiu das mãos do autor de outras histórias que o cinema já adaptou, quase sempre com bons resultados. Fale-se em “Blade Runner”, em “Total Recall” ou em “Minority Report”. Universos futuristas, com protagonistas atormentados e uma atmosfera alucinatória. “A Scanner Darkly” partilha de muitas destas matrizes, mas talvez mais do que em todos o efeito trip esteja presente. Talvez por isso ao vê-lo venha mais à mente “Fear and Loathing in Las Vegas”. Aqui a confusão dos seres torna-se a confusão do espectador. A sua existência sob o efeito da perigosa “substância D” é mostrada com a espontaneidade da sua perspectiva, sem a procura de uma lógica narrativa evidente. A estranheza é uma constante.
Naturalmente o filme é bem mais que uma exposição de fragmentos da vida de um grupo de junkies. Há um enredo, um “por detrás”, uma revelação final. E em tudo há uma ácida crítica à sociedade, a mesma em que Phillip K. Dick escreveu, a mesma em que viveram os amigos que sofreram irreversivelmente as consequências das suas adicções, como nos é dito antes de cair o pano. Há mais uma procura de responsabilidade que de culpa, mas acima de tudo há uma tentativa de compreensão.

“Waking Life” era luminosamente inquietante mas “A Scanner Darkly” é sempre sombrio e bem mais fechado e o espectador nem sempre o consegue alcançar. Mas independentemente disso, o seu radicalismo podia ser ainda maior.
O leque de actores do filme é bastante interessante, destacando-se um fabuloso Robert Downey Jr e uma (bem) reaparecida Winona Ryder. Mas este é claramente um filme de conjunto, em que se devem dividir os méritos pelos especialistas da equipa. Refira-se en passant os instrumentais de Graham Reynolds e as canções dos Radiohead.

“A Scanner Darkly” parece ganhar uma aura de “ovni” ainda maior após o seu visionamento, daí que se imponha uma total abertura mental para o ver. Não sendo uma obra arrebatadora, é sem qualquer dúvida um projecto a ver com a curiosidade que desperta a diferença e a inovação.


posted by Anónimo @ 11:52 da tarde  
2 Comments:
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