Nuno Prata deve ser a melhor coisa da música portuguesa desde os Old Jerusalem. Tendo integrado os Ornatos Violeta como baixista, lançou-se na aventura a solo, tendo editado o ano passado o seu disco de estreia “
Todos os Dias Fossem Estes/Outros”. Basta uma música, uma só música para render alguém. O que uma voz quente e a poesia da vida podem fazer…
A excelência do seu trabalho assenta numa espontaneidade desarmante, como se tudo tivesse sido composto de um fôlego, ao sabor das emoções do instante, mágoa, estranheza ou raiva, ou simplesmente constatação do que é, ou somente do que se sente. É tudo um viciante correr de experiências mais miúdas ou graúdas, de coração ou de mal de cabeça, com a sinceridade de quem se dá cantando as suas andanças, trovador despreocupado das suas preocupações. Fala-se de solidão (“Esqueço-me rapidamente que pé se põe pra seguir em frente / E o meu norte não é tão forte que a sorte de outros não me tente”), de incompreensão, de amores e caídas (“Hoje quem acordou na minha cama / Hoje quem é que eu sou? / Já é manhã mas esta noite ainda não passou”), fala-se do existir todos os dias connosco e com os outros (“Dava-te tudo se tudo fosse pra teu bem / Dava-te a vida se a minha vida valesse um dia nosso”), fala-se do conformismo e da rotina (“Vamos cantando e rindo / Alegremente enterrados na merda que nos impingem / É o nosso destino. Não se contraria o destino”), com a despretensão que confirma a universalidade.
Eu diria que Nuno Prata é um exemplo de um cantor-poeta que não precisa de mais nada para se afirmar. Quando o ouvimos não ouvimos só um músico, ouvimos a nossa própria voz, numa articulação espantosa de fragmentos do que é “estar aqui”, com esperanças e desilusões (oiça-se a magnífica “Volto para casa a pensar na mesma coisa”). Expressa com uma autenticidade desarmante que diz sem rodeios “Esse não, foda-se”.
Ora mais suave e fluido, ora mais depurado, o seu som leva-nos, mesmo quando não queremos, para memórias, experiências, passos que demos e que aqui reencontramos. Não é todos os dias que encontramos um tão simples e tão bom tradutor de estados d’alma. Que ainda ouse, com a consciência do desencanto de adulto, acreditar na hipótese de um homem invisível. “O homem invisível ainda acha possível / abrir sorrisos à sua passagem. Mas não é fácil.”
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Desconhecia por completo, mas deixa-me dizer-te que fiquei cheio de curiosidade. Tenho de ouvir!