 O jardim está seco, tem árvores para podar, tem demasiados espinhos nas rosas que são amor. São as mãos calejadas e ensanguentadas por demasiados Invernos. O jardim dará flor. Quando aprendermos a viver.
Depois de ‘esquissos’ e um ‘segundo’, Tiago Bettencourt pega nos Mantha e deixa para trás os Toranja. Parte para novos rumos musicais. Constrói o seu jardim. “Uma canção simples” abre o disco, e logo nos faz perceber que uma boa dose da humildade que parecia faltar nos Toranja, estava guardada para o novo projecto do vocalista. A banda de a “Carta” fugia de músicas simples, forçando clássicos orelhudos e, com eles, encostavam-se, demasiado confortáveis, a rótulos que a imprensa nacional adora distribuir por todas as novas bandas que surgem. Momentos como Ensaio, do álbum ‘segundo’ mostram alguma necessidade de fazer algo diferente, algo mais próprio que, infelizmente, nunca foi desenvolvido pela banda. Tiago Bettencourt tem, nem que seja só por isso, o mérito de ter deixado os Toranja totalmente para trás neste novo projecto (que o próprio recusa considerar ser um álbum a solo).
Nova sonoridade - mais experimentalista - uma pop mais eficaz e despreocupada. Nem por isso menos elaborada. A grande melhoria em relação aos Toranja é, claramente, ao nível da produção. Desde os arranjos, à construção das músicas como um organismo vivo, tornam o Jardim numa das melhores produções musicais dos últimos tempos do nosso país. Os Mantha são constituídos por Pedro Gonçalves (Dead Combo) e João Lencastre - e não há como fugir à menção aos Arcade Fire. Gravado no mesmo estúdio em que a banda de Montreal gravou Funeral, Tiago Bettencourt contou ainda com a ajuda de Howard Billerman, produtor e membro da formação original dos Arcade Fire. A influência é notória mas, em momento algum, pensamos que Tiago Bettencourt e os Mantha pretendem ser os Arcade Fire portugueses. Há sim, um semelhante cuidado exímio com os pormenores e na tentativa de fazer algo diferente e arriscado. “Voo”, “O Campo” e “O Jogo”, assim como o próprio 1º single, “Canção Simples”, revelam essa maior influência dos Árcade Fire, mas num género próprio. Tiago Bettencourt pega na fórmula e adapta-a ao seu estilo. Sem copiar, sem pretensiosismo, simples…
Um jardim labiríntico, que dá vontade de ver crescer e no qual vou passear, e perder-me, por algum tempo.
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'Fazes muito mais que o Sol..'
Lindo. O Bettencas (grande!) não surpreende, mas obedece à expectativa com o brilho de sempre!
Bjs e mimos para os rebocados ;)
Nits*