
Talvez Bela Lugosi esteja morto mas os clássicos não estão nem mortos nem enterrados no hermetismo de uma versão única. Os Nouvelle Vague provaram-no em palco este Sábado, tal como o haviam demonstrado nos dois discos que até agora lançaram (“Nouvelle Vague” de 2004 e “Bande À Part” de 2006). Este grupo de franceses pediu emprestado o nome ao movimento cinematográfico que se iniciou por volta dos anos 60, uma escolha certamente não aleatória uma vez que a Nouvlle Vague viveu também ela da “reinvenção” de coisas já existentes. Da redescoberta também. Nenhuma das canções dos Nouvelle Vague é deles. Eles pegaram em canções basilares da cultura pop-rock, actualmente em redescoberta com um saudosismo dos 80s e afins, e rearranjaram-nas sobretudo com influências bossa-nova.
As razões do sucesso: imaginação, doçura e sentido de homenagem. Ao vivo são de uma competência a assinalar, sem nunca descurarem a simpatia. Transmitem uma ideia contagiante de que gostam do que estão a fazer. Num concerto a recordar pelo encanto da sonoridade em plena conjugação com o espaço relativamente reduzido do Paradise Garage, os Nouvelle Vague percorreram quase todas as canções do último álbum, não olvidando algumas canções-chave do disco anterior. Destaquem-se “Too Drunk to Fuck”, “Just Can’t Get Enough”, “Ever Fall in Love?” e, claro, “Bela Lugosi’s Dead”. O momento mais esperado da noite ficou reservado para a parte final. Esse amor que separa dos Joy Division continua a unir. “Love Will Tear Us Apart” foi um momento de comunhão de vozes e maravilha. Entusiasticamente aplaudidos, ainda regressaram duas vezes ao palco, brindando-nos numa delas com a belíssima “In a Manner of Speaking” que alguém apaixonado na audiência pedira para dedicar à cara metade.
Ouvir Nouvelle Vague não constitui nenhuma obrigação cultural mas proporciona deliciosos momentos de revisitação, ou, se quiserem, um exercício de saudosismo que prima pela agradabilidade e não pela frustração. Segundo a promotora do evento, daqui por um ano cá os teremos outra vez. |
Tive imensa pena de não os poder ver no Porto, isto porque tenho para mim que "Nouvelle Vague" é dos mais simpáticos, contagiantes e bem conseguidos álbuns que ouvi nos últimos tempos. São mesmo muito bons.