
Depois da desilusão que foi Mary, foi com menos entusiasmo e excitação que regressei à mesma sala de cinema para ver Mutual Appreciation. Contudo, se Mary teve algum aspecto positivo foi, exactamente, baixar as minhas expectativas para assim me poder surpreender com Mutual Appreciation.
Mutual Appreciation é, quer na forma, quer no conteúdo, um filme nitidamente independente. Digo isto pois, actualmente, é comum afirmar-se descomplexadamente que determinado filme é independente, como se isso lhe conferisse um nível de intelectualidade superior aos restantes. Não, Mutual Appreciation rompe com todos os convencionalismos comerciais, apresentando-se como uma obra diferente, verosímil e quase amadora. O amadorismo não está, contudo, tanto no conteúdo mas mais na forma onde a montagem do filme é, sem rodeios, má e a fotografia a preto e branco inconsequente e impertinente. Assim, o que torna este filme especial? O conteúdo e os protagonistas.
Escrevendo, realizando, editando e protagonizando, Andrew Bujalski tem aqui o "seu" filme, e vê-se em todos os frames um tremendo amor à arte e uma vontade herculeana de trazer algo novo e, como tal, inovador à indústria cinematográfica. E a verdade é que se este filme não é inovador, pelo menos consegue ser uma excelente réplica do cinema independente americano. Edificado sobre um argumento muito bom, Bujalski coloca naquelas personagens todos os receios e angústias dos
twenthy-something, com a qual, obviamente, não pude deixar de me identificar. De facto, é graças à fusão de um argumento físico com a abertura ao improviso dos "actores" que Mutual Appreciation marca a diferença, transparecendo uma verosimilhança que, decerto, não escapará a ninguém. Por outro lado, o facto dos protagonistas serem seus amigos próximos e não terem muita experiência em termos de actuação confere ao filme uma aura que balança entre o amador e o experimental, o que acaba por resultar numa ambiguidade cativante.
No entanto, independentemente do seu amadorismo e sendo-lhe favorável o facto do papel ter sido pensado para si, Justin Rice consegue um desempenho fascinante. Extremamente expressivo, o actor alia uma capacidade cómica com uma contenção dramática deveras impressionante. Apoiado no protagonismo por Rachel Clift, também esta tem uma intrepretação digna de registo, de onde se extrai principalmente a sensualidade do seu olhar e a subtileza dos seus gestos e palavras. O terceiro vértice deste triângulo tão especial é Andrew Bujalski que, infelizmente, não acompanha em termos de qualidade os restantes actores. Com uma incapacidade de expressão acentuada, Bujalski "actor" revela falta de química com os restantes protagonistas e parece, invariavelmente, sempre a mais nas cenas onde entra.
Concluindo, Mutual Appreciation é um bom filme. Não sendo capaz de deslumbrar, a verdade é que o seu argumento e as situações criadas conseguem tocar o telespectador pela naturalidade que transparecem. Estando no melhor e no pior do filme, Andrew Bujalski torna-se assim num nome a seguir atentamente, principalmente pelas qualidades que revela enquanto argumentista.
Classificação:



O cinema deve ser uma arte bem protegida...principalmente em portugal!
A for2kind lança uma pergunta que, aqui neste blog, também ja se falou: os festivais de verão. Existe uma descentralização nos festivais? dá-nos a tua opinião.
obrigado