quarta-feira, fevereiro 22, 2006
Walk the Line


Hollywood parece que está, cada vez mais, a especializar-se na adaptação para o grande ecrã das vidas dos seus ídolos. Depois de Ray Charles, Bobby Darin, Elvis (na televisão), entre outros, chega-nos este ano mais uma panóplia de biopics que alçançaram bastante sucesso, como é o caso de Good Night and Good Luck, Capote e Walk the Line. E se estes três eram dados como certos na categoria de Melhor Filme nos óscares, Walk the Line não conseguiu o seu lugar, dando espaço, merecidamente, para o "regresso" de Munich. Muito se pode argumentar porque é que Walk the Line não teve força para constar entre os cincos filmes do ano. Quanto a mim a explicação reside num factor: Ray. De facto, o ano passado Ray conseguiu a última vaga nos cincos nomeados passando à frente de filmes como Eternal Sunshine of the Spotless Mind e Hotel Rwanda e, este ano, a Academia não quis seguir a mesma linha e nomear um filme tão parecido. Alías, este ponto justifica igualmente as fracas possibilidades de Joaquin Phoenix chegar ao Óscar sendo que este já está, à partida, entregue. Mas chega de divagações acerca de prémios cinematográficos e passemos à crítica ao filme.

Walk the Line não é um grande filme mas também não é medíocre. Na verdade, mesmo que o filme fosse péssimo as actuações dos actores principais dariam-lhe um certo brilho. Este é, na minha opinião, o grande trunfo do filme pois, de facto, Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon estão avassaladores e têm uma química que não deixa ninguém indiferente. De facto, James Mangold foi inteligente em centrar o seu filme na relação de Cash e June pois desta forma o filme ganha outro interesse, apesar de depois se arrastar num registo melodramático que, episodicamente, poderia ter sido evitado.

Quanto às críticas feitas relativamente aos biopics serem, em termos narrativos, muito estereotipados, penso que são reflexões sem fundamento. Tudo o que é mostrado em filme, trata-se de situações verídicas e não fazem parte de nenhum argumento talhado para cinema. Assim, se vários ícones americanos entraram na espiral das drogas, tiveram problemas conjugais e sofreram traumas na infância, não se lhes pode acusar de serem pouco originais. E, relativamente ao cinema, se esses traumas e essas circunstâncias da sua vida, legitimam certas acções ou estão por detrás de determinados comportamentos faz todo o sentido que se faça alusão a isso. Agora a forma como tal é feito, isso sim já pode ser discutível. E é exactamente na forma como Mangold adapta esses acontecimentos da vida real para objecto cinematográfico que o filme perde a sua força, pois existem momentos do filme que poderiam ser evitáveis. Por outro lado, a realização nem sempre está a um grande nível ao contrário da banda-sonora, onde as vozes dos actores (depois de mais de seis meses de aulas de canto) são uma bonita homenagem aos cantores originais.

Um último apontamento em relação à actuação de Phoenix. O seu desempenho foi muito elogiado devido ao facto de ter captado a essência de Cash na sua forma de estar na vida e até mesmo nos seus trejeitos e na forma como canta. Contudo, eu sou incapaz de fazer tal análise pois não conheço Cash e, como tal, nunca posso afirmar que Phoenix está irrepreensível na sua composição. Na verdade, o actor tem um excelente desempenho mas não existe a possibilidade de comparação. O mesmo acontece com Reese Witherspoon. No entanto apesar de não saber até que ponto esta captou a essência da verdadeira June Carter, a verdade é que o seu desempenho é deslumbrante, espalhando magia e alegria em cada cena, conseguindo, em alguns momentos, cativar-me mais que a actuação de Phoenix

Assim sendo, Walk the Line é um filme vulgar, onde a aceitação tão entusiasta pela crítica americana apenas pode ser explicada pelo facto de ser uma personalidade bastante amada pelos americanos. De facto, excluindo os desempenhos, não existe nada de extraordinário neste filme, limitando-se a cumprir, sem grande brilho, aquilo a que se propunha: homenagear Johnny Cash.

Classificação:
posted by P.R @ 10:36 da manhã  
4 Comments:
  • At 10:22 da tarde, Blogger Ana said…

    este é um filme que eu ainda quero ver...qdo soube que iam fazer um filme sobre johnny cash, achei que so podia ser um belo filme...dps, com o trailer e outros anuncios publicitários do filme, achei que afinal nao parecia ser um filme assim tao bom...pelo post, parece q a minha ultima opiniao domina...a ver vamos...

     
  • At 12:16 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Tem as suas falhas, mas como homenagem resulta muito bem.

    Já agora, tomei a liberdade de adicionar o "Take a Break" aos links no meu blog. Espero que não te importes (e que adiciones o meu também aqui aos teus links :P).

    Abraço!

     
  • At 11:54 da tarde, Blogger João said…

    Gostei bastante deste filme. De facto é um pouco melodramático, podia explorar de outra maneira a personalidade de Cash. Não é um grande filme mas, como entretenimento, é do melhor que tenho visto, principalmente para quem gosta da música.

     
  • At 9:33 da tarde, Blogger Unknown said…

    Para mim, esta fita é não só o melhor biopic musical, como tem umas das melhores interpretações a que tive felicidade de assistir. Refiro-me a Joquin Phoenix obviamente.

    Daria 4 ou 4.5 em 5 dependendo do dia em que o visse.

    De qualquer, considero que a crítica está muito bem escrita.

    http://www.cinemaismylife-fifeco.blogspot.com/

    Filipe Coutinho

     
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