Começamos a ver aqueles créditos iniciais em cor-de-rosa e pensamos
O Ozon passou-se!. Eventualmente somos envolvidos pela vivacidade de Romola Garai, mas nesta longa evocação do melodrama clássico depressa perde o fôlego e não se consegue manter num equilíbrio precário entre a homenagem e o ridículo – caindo numa autêntica, perdoe-se o termo, piroseira.
Rodado em Inglaterra e em inglês, o filme conta-nos a história de uma jovem chamada Angel (sim, Angel!), filha de uma viúva de poucas posses que anseia vir a ser famosa como escritora. “Angel” segue o seu percurso desde o sonho à realidade, que por seu turno acaba por destroçar o sonho. Isto é, conhecemos a Angel adolescente determinada, cujos delírios românticos a roçar o absurdo vêm a ser publicados, alcançando o estrelato a que sempre ambicionou. Com a fama vem a riqueza, que lhe permitirá afastar o mais possível as suas origens e conquistar o homem que ama (e que não a ama a ela). Mas naturalmente nem tudo será um mar de rosas.
Perante as contrariedades que vão surgindo na sua vida e no mundo que a rodeia, Angel reage pela fantasia e imaginação, refugiando-se constantemente do real, que não parece querer aceitar ou sequer compreender.
Tirando partido de sumptuosos cenários e guarda-roupa, François Ozon esmera-se no aspecto de recriação de uma época (o filme decorre nas primeiras décadas do século XX) mas nunca perde o centro, isto é, a figura de Angel, encarnada com uma impressionante paixão por Romola Garai (“Dirty Dancing: Havana Nights”). Encontramos nos secundários prestações de algum relevo, nomeadamente uma nobre Charlotte Rampling que tem uma personagem com a qual o espectador consegue sentir uma certa empatia.
Apesar de conseguir ser minimamente interessante este retrato de uma mulher com tanta imaginação como falta de talento, o filme depressa cai na monotonia, arrastando-se penosamente por duas horas de tiradas de romance de cordel a roçar o insuportável. Não negamos que possa existir aqui uma intenção algo nostálgica de reviver obras passadas, mas a verdade é que de tanto forçar o encanto, o encanto que o filme poderia ter esgota-se rapidamente.
Ficam alguns momentos bem conseguidos e uma actriz a ter em atenção, mas não são suficientes para salvar este pequeno delírio ultra-romântico de François Ozon.

2 estrelinhas? Que generosidade :p