domingo, maio 14, 2006
A Naifa | Fórum Lisboa | 13.05.06

A verdade apanha-se com enganos

A Naifa assumiu-se de há dois anos a esta parte como um dos mais originais e bem sucedidos projectos da música portuguesa. Conjugando fado com uma atmosfera de pop electrónica (pop[ular] ganha aqui sem dúvida um sentido imenso), A Naifa conjuga o que de mais tradicional e vanguardista existe em Portugal. As suas letras, pejadas de uma ironia deliciosa, rompem tabus e elevam a poesia e a música a uma dimensão entre o provocador e o extasiante, honrando raízes mas rompendo barreiras.
Após uma digressão por várias cidades portuguesas, A Naifa fechou a tour esta noite num Fórum Lisboa esgotado, onde as idades se misturavam e o ambiente intimista e calmo rompeu na parte final numa toada libertária ao som da “Tourada” de Ary dos Santos / Fernando Tordo, com Mitó (Maria Antónia Mendes, vocalista do grupo) erguendo um cravo vermelho na mão.

O concerto intercalou músicas do primeiro álbum (“Canções Subterrâneas”, de 2004) e do último (“Três Minutos Antes da Maré Encher”, deste ano), com poucas ou nenhumas inovações quanto aos arranjos do disco. Sem grandes variações mas com uma afinação irrepreensível, os quatro elementos da banda brindaram o público com a sua mestria musical (Luís Varatojo e a sua guitarra portuguesa, João Aguardela no baixo e Paulo Martins na bateria) e a voz simultaneamente tão contida e tão elevada de Maria Antónia. Interpretaram canções mais vivas como “Música” ou a deliciosamente mordaz “Señoritas” e canções onde a vertente mais triste do fado emerge, como “Rapaz a Arder” ou “Porque me Traíste Tanto”, não esquecendo as mais emblemáticas (e porventura mais arriscadas, mas por isso mesmo raiando a genialidade) “Metereológica” ou “Fé”. E não deixa de fazer um irónico sentido escutar “As finíssimas senhoras das avenidas dão por mim quando passo” (de “Bairro Velho”) ali mesmo no Areeiro das finíssimas senhoras.

O grupo irradiava estilo, estilo levado ao auge com uma quase-representação entre a vocalista e o baixista, em que este expelia o fumo do cigarro contra a penumbra do palco, para logo retomar o instrumento e acompanhá-la. Entre a pose clássica e alternativa, ressalte-se a indumentária de Maria Antónia, alternando um clássico vestido preto comprido com uma botas modernas de atacadores vermelhos, reflexo também da fusão que é música da Naifa.

Foi um concerto bastante interessante e que confirma A Naifa como um grupo com o seu espaço muito próprio dentro do panorama musical português, cantando o melhor e o pior deste país, de forma única.
posted by Anónimo @ 1:16 da manhã  
3 Comments:
  • At 10:41 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Os aranjos podem não ter tido grandes variações, mas há grandes músicas que não precisam de mais nada... Outras, como "todo o amor do mundo..." ganharam com pequenos pormenores, como uma percussão diferente. Acabei por gostar mais mesmo das canções de que gostava menos...

    Realmente o som deu um toque de amadorismo à coisa, que nao ofuscou o brilho de uma noite mágica.

     
  • At 12:19 da tarde, Blogger gonn1000 said…

    Também gostei, as diferenças das canções em relação às versões do disco não foram muitas, e o concerto poderia ter durado mais tempo, mas mesmo assim valeu a pena.

     
  • At 2:58 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Só lamentei não ter durado mais tempo!
    O concerto foi um momento que encheu todo ele a alma.

     
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