The Hottest State é um filme, e um livro, de Ethan Hawke que nos fala da “aproximação” da maturidade, das paixões, dos desgostos, dos traumas e dos respectivos recalcamentos da personagem de William Harding, um rapaz texano de 20 anos, concebido no banco detrás de um carro, distante dos pais que mal conhece, tímido na primeira aproximação às raparigas, com o sonho de ser actor de cinema. É no epicentro desta tumultuosa existência que começa a habitar Sarah, uma aspirante a cantora que mudará o “destino” de William.
Antes de mais, é impossível não vislumbrar em The Hottest State a genuinidade, profundidade e verosimilhança dos diálogos de Before Sunrise / Before Sunset. As longas conversas entre as personagens conseguem ter o mesmo encantamento das divagações de descobertas de Jesse e Celine. No entanto, as abordagens nos dois filmes demarcam-se no seu propósito. Enquanto que nos filmes de Linkater acompanhamos hora e meia da vida das personagens, a saber pouco do presente e quase nada do passado, em The Hottest State Hawke injecta mais “contexto” às relações, mais interligações com várias personagens. E como tal temos um filme diferente, não melhor, mas diferente.
A grande virtude do filme de Ethan Hawke é a sinceridade e o realismo com que criou aquelas personagens. É impossível não vermos naquelas “pessoas” traços da nossa própria personalidade e sobretudo vivência. Todos nós já nos sentimos amados, rejeitados, todos já sentiram a chama da paixão e a dor de querer apagá-la subitamente. Assim, quanto mais nos abrirmos ao filme, maior será a densidade com que nos toca e, consequentemente, maior será a nossa própria viagem, o confronto com a nossa essência e existência e com aquilo que queremos e sonhamos.
Poderia falar do belo trabalho dos protagonistas, da interessante e promissora realização de Hawke, da fascinante montagem que interliga a conversa banal de um café com os gemidos de prazer da cena ao lado, mas embora tudo isso seja verdade, a verdade é que a essência e o interesse deste filme está na história que nos conta. Apesar de alguns momentos se desviar ligeiramente da densidade que governa o filme, The Hottest State é um filme maduro, bem construído e que faz criar empatia com as personagens. É fácil compreender aquelas personagens, os motivos, as dúvidas, os anseios. E, na prática, é impossível não gostar ou não ser condescendente com os protagonistas. Talvez porque todos nós, um dia, já sofremos, já racionalizamos, e já amámos como eles.



Gostei bastante do filme, até porque sou grande fã de Ethan Hawke e há muito dele no filme.
Belo blog. Abraços!