
Não sou grande fã de séries ou filmes históricos. Dito isto, Rome conseguiu, contra as minhas expectativas, conquistar-me. Talvez por ter o carimbo da HBO (que nunca me deixou ficar mal) ou então só mesmo porque toda a viagem na qual estas duas temporadas nos leva vai crescendo de intensidade, de interesse e, diria mesmo, de qualidade.
Lucius Vorenus e Titus Pullo são os anti-heróis da série e é à volta deles, e de todos os seus percalços enquanto soldados romanos, que a história (ou antes a História) se vai desenrolando. Os dois companheiros testemunham a passagem de Julio César pelo poder, as traições de Pompeu, as excentricidades de Marco António e Cleópatra. Figuras históricas mais próximas de uma realidade familiar. O efeito telenovela da série triunfa em manter o nosso interesse aceso, sem nos apercebermos da importância histórica do que é narrado. E sugamos toda a trama como crianças a olhar para uma montra de doces.
Se a primeira temporada funciona na introdução e profundidade dos personagens, somos confrontados com as suas motivações numa escala mais restrita, vivemos as suas inquietações dentro de quartos e salas, na segunda temporada, introduções feitas, passamos à acção numa dimensão mais ambiciosa. Dão-nos finalmente batalhas em campo, palácios e conquistas por mar, em toda a sua plena magnitude. Digamos que, se a primeira temporada serve para mostrar a força da personalidade romana, a profundidade das suas acções ao nível do sujeito, a segunda mostra a colossal extensão física e histórica das suas acções.
O humor bruto da época dá-nos uma experiência diferente da condição humana mas os pilares que ainda hoje regem as nossas vidas, como a confiança, a honra e, acima de tudo, o amor, permitem que a série seja vista num paralelismo com a nossa sociedade, com os valores que hoje seguimos.
Mostro aqui a minha fidelidade para com esta série e recomendo-a a todos. Nunca a barbaridade foi tão apetecível.
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O lindo desta série é que de tão bem estruturada que está, não precisa de inventar novos rumos, ou histórias na história. Eu estou a imaginar dois apaixonados do império romano a discutirem numa esplanada com um cigarro na mão a ascensão e o declínio de Roma, quando um se lembra e diz: "e se a causa forem dois tipos doidos que sem saberem nem como nem porquê estão por trás de todos os elementos chaves do primeiro império Romano?"
O resultado são estas duas temporadas espectaculares!