quarta-feira, fevereiro 08, 2006
Filmes de 2006
O início de qualquer ano em Portugal é sempre sinónimo de bons filmes. De facto, é a partir de Janeiro que o nosso pequeno país começa a entrar na espiral dos filmes galardoados pela crítica americana e se por vezes isso não é sinónimo de qualidade, tem que se admitir que é, pelo menos, um bom prenúncio. Desta forma, e como, por múltiplos factores, não tive a oportunidade de fazer críticas aos filmes que vi, farei agora um balanço conjunto com as respectivas críticas-resumos.

Caché




Caché chegou ao nosso país com um rótulo de cinema de qualidade quer pelo realizador em questão, quer pelos vários prémios conquistados. E se é verdade que à primeira vista o filme causa alguma estranheza, o facto é que, pensando um pouco no filme, este adquire dimensões mais profundas e existencialistas. Estamos assim perante um filme que questiona os erros do passado e a ligeireza com que são recalcados para que possamos viver tranquilos com a nossa consciência. Abordando também questões relacionadas com o racismo e com a subalternização de culturas em detrimentos da outra, o filme vale, sobretudo, pelo final. De facto, não há aqui um esclarecimento total dos acontecimentos e, sobretudo, não existe um culpado ou um inocente. O filme centra-se num dos sentimentos mais devastadores para o ser humano: a angústia da incerteza, a hesitação de saber se estamos ou não a ser justos e para quem viu o filme perceberá que esta questão ganha uma dimensão extraordinariamente complexa. Um último apontamento para o trabalho fantástico dos actores, e para a realização que envolve e manipula o telespectador um pouco, diria eu, como acontece actualmente com os meios de comunicação social.

Classificação:

Jarhead




Um dos filmes mais aguardados deste início do ano e que foi, para mim, uma desilusão. Eu percebo a ideia de ser um filme de guerra sobre a não guerra, percebo e gosto bastante, entendo perfeitamente o objectivo de perceber as motivações e os receios daqueles soldados, acho que o trabalho dos actores é realmente muito bom, assim como a fotografia e a realização mas, e então? A verdade é que o filme parte de uma premissa interessante, mas depois não a consegue desenvolver linearmente, não consegue dar-lhe coesão. De facto, o filme revela-se demasiadamente fragmentado e episódico não dando espaço para que se consiga aprofundar aspectos que, na minha opinião, seriam essenciais. Pior, não só não desenvolve as personagens como entra nos protótipos e estereótipos de soldados que vimos em outros filmes, onde temos o palhaço da companhia, o nerd, o garanhão... Eu bem sei que o filme é adaptado de uma história real e que as personagens de facto existiram e são factuais, mas a verdade é que na tela não o parecem. Isto não quer dizer, contudo, que tenha detestado o filme e que ele seja mau pois o trabalho do Sam Mendes é, a espaços, realmente bom mas, em termos globais, Jarhead fracassa.

Classificação:

Kiss Kiss Bang Bang



Não há muito a dizer sobre este filme. É, dentro do seu género, do melhor que tem aparecido nos últimos anos, tens gags fantásticos e que resultam na perfeição, tem um renascer de dois actores cuja química resulta e, acima de tudo, é um excelente entretenimento. Numa única frase, Kiss Kiss Bang Bang é o filme cool do ano.

Classificação:

Memoirs of a Geisha




O que se faz quando um livro é um sucesso mundial? Adapta-se ao cinema. Resultado? Um filme que deixa muito a desejar. Memoirs of a Geisha é, contudo, um filme um pouco híbrido pois contrabalança elementos fantásticos com outros menos conseguidos. De facto, se estamos perante um filme em termos técnicos muito bom, quer em fotografia, banda-sonora ou direcção artística, a verdade é que o filme falha exactamente onde não podia nem devia falhar, no argumento. Na verdade, o filme não permite um aprofundamento das personagens, não permitem que estas desenvolvam, revelando-se extremamente frio e distante. Esta responsabilidade pode, e deve, ser também dirigida à realização amadora e académica de Rob Marshall que, na minha opinião é pior que a de Chicago.

Classificação:

Match Point




Penso que tudo o que havia para dizer já foi referido na crítica anteriormente feita. Assim, apenas enfatizo a excelência dos desempenhos, da realização e, sobretudo, do argumento que se revela um dos mais inspirados do ano. De facto, comparando com filmes como Memories of a Gueisha ou Jarhead percebe-se a magnificência do argumento de Woody Allen que está a milhas de distância dos argumentos dos referidos filmes.

Classificação:


Munich




Munich é um prodígio absoluto. Experiênciar Munich, perceber as implicações das imagens que nos são transmitidas é uma viagem angustiante e tenebrosa que, no meu caso, me fez sair da sala completamente esmagado com a grandiosidade do filme. Munich é um murro no estômago onde a esperança se revela um conceito vazio e cujos 45 minutos finais se revelam transcendentais e de impossível descrição. Vejam-no, pensem-no e sintam-no.

Classificação:

Desta forma, parece-me que o início de 2006 foi, de facto, bastante auspicioso e pode ter sido um bom prenúncio para o resto do ano. Mas é claro que nem todos sentimos o cinema da mesma forma e portanto deixem a vossa opinião seja ela consoante ou contraditória com aquilo que foi aqui escrito.
posted by P.R @ 10:40 da manhã  
4 Comments:
  • At 2:42 da tarde, Blogger not_alone said…

    Estou bastante ansioso para ver Match Point, não só porque dizem tão bem dele, mas porque sou grande fã de Woody Allen. Quanto aos outros não concordo com a tua prespectiva de fracasso do Jarhead. Fiquei satisfeito com o filme, gostei da prespectiva do filme, gostei especialmente de não ter a pretensão de ser uma obra prima mas, humildemente, uma homenagem a obras primas como Apocalipse Now e Full Metal Jacket. També não concordo, mas desta vez pela negativa com o teu enaltecimento de Munich, não acho, de todo, que se ja um mau filme, mas esperava mais. O ritmo do filme é demasiado lento, chega mesmo a ser aborrecido. No final o filme renasce, mas já demasiado tarde para conseguir compensar a primeira hora. Acaba por seu um bom filme, com excelentes momentos e excelentes interpretações, mas depois no conjunto não é a obra-prima antecipada.
    Em relação ao resto das críticas, estou contigo... Kiss Kiss Bang Bang só não me parece que será o filme cool do ano porque está para estrear V for Vendetta, mas é sem dúvida um filme a figurar na minha lista de filmes de culto.

     
  • At 10:16 da tarde, Blogger P.R said…

    Realmente é interessante... pelos vistos temos gostos parecidos ;) Abraço

     
  • At 10:24 da tarde, Blogger Ana said…

    Confesso q a apresentaçao do Munich n me atraiu minimamente, mas tendo em conta estas criticas (com as quais concordo na sua maioria) acho q ir ver este filme é um caso a pensar...

     
  • At 12:34 da manhã, Blogger P.R said…

    eu: tens MESMO de ver este filme. é uma autêntica obra-prima :) mas atenção que sou suspeito, porque adorei o filme ;)

     
Enviar um comentário
<< Home
 
 

takeabreak.mail@gmail.com
Previous Post
Archives
Cinema
>> Críticas
>> Filme do mês
>> Grandes Momentos
>> 10 Filmes de Sempre
>> Balanços
"Combates"
Críticas Externas
Música
>> Concertos
>> Discos
>> Sugestão Musical
>> Video da Semana
>> Outros
Teatro
TV
Literatura
Outros
Links
Affiliates