
(…) É, além disso, uma versão que, ao contrário da adaptação cinematográfica de Kubrick, abarca a totalidade do livro, apresentando no fim um herói delinquente que está agora em processo de crescimento, que se apaixona, que inicia uma vida decente e burguesa com mulher e filhos, e que nos consola com a doutrina de que a agressão é um aspecto da adolescência que a maturidade rejeita. (...) Anthony Burgess (autor da obra)
No passado mês de Janeiro, subiu ao palco da Culturgest uma hilariante adaptação da novela de Antthony Burgess; A Clockwork Orange – A play with music.
Mais do que um comentário descritivo, urge analisar a essência desta obra. Assim, tão latente na pós-modernidade, a temática do “livre-arbítrio versus predestinação” é o ponto incontornável desta peça, cirurgicamente interpretada.
O protagonista, Alex, opta deliberadamente pelo mal, como meio de libertação espiritual, uma vez que o bem é intrínseco a quem que escolhe deliberadamente o mal, ao invés de quem é forçado a ser bom.
Na peça em questão é visível a aceleração de alguma das cenas, mais mediáticas do filme. Da mesma forma, constata-se um novo olhar central, mais do que uma história sobre um marginal, a questão é a da resistência de Alex aos métodos científicos, possíveis de obrigar a ser bom.
Ora, os homens são como são e é impensável forçá-los, quer por meios científicos, quer por meio de pressões ou condicionamentos sociais, a alterar o seu conteúdo nuclear.
José Eduardo Rocha surge como director musical de uma peça intimamente relacionada com a música que a acompanha. Ou será o texto que acompanha a música? A dúvida permanece. No entanto, um facto é certo, a música surge em diálogo com o texto dramático e ambos os elementos assumem uma elevada importância teatral.
No limite, poder-se-á afirmar que estas metáforas musicais fazem parte da peça como outro qualquer elemento cénico. Assim, a música metacomunica o texto e a peça é inconcebível sem música, uma vez que esta é em si, texto.
O que fica desta leitura/ida ao teatro? Uma olhar inquietante sobre o controlo estatal que exclui uma possível e livre redenção. Esta perturbante e inteligente relação entre o cidadão e o Estado, não permite a fuga, persegue-nos e impõe-se enquanto cenário de reflexão e pensamento.
Obrigado Rita
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Bem... se for tão boa como é o filme, a peça deve ser fantástica :)