Sejam bem-vindos a Sam's Town.
Os americanos mais britânicos da indústria discográfica estão de volta, depois do espantoso Hot Fuss, propondo uma viagem a Sam's Town, que fisicamente se trata de um casino na cidade natal da banda, Las Vegas, mas como espaço para a construção do disco é algo mais. Antes de mais, começamos com uma breve introdução sobre esta tal Sam's Town. "I see London, I see Sam's Town", diz Brandon Flowers. Chegados a este local, são-nos dadas as boas vindas, e está prometido o álbum do ano, promessa que, infelizmente, nunca chega a ser cumprida, apesar de não andar tão longe como isso.
Este novo álbum da banda norte-americana é marcado pela sua notável maturação, que faz crescer e edificar alguns valores ainda tímidos no trabalho anterior. Aqui, a voz tímida de Flowers de "Mr. Brightside" desaparece para dar lugar a um opera-rock, onde a componente vocal enche grande parte da música. Recuperando grande parte da herança do rock progressivo dos anos 80, os The Killers adoptam também eles uma imagem mais adulta, e uma postura assumida de quem pretende conquistar os ouvidos do mundo. Assim é desde logo prometido com o primeiro single do álbum, "When You Were Young" (música que, insisto, me lembra demasiadas vezes António Variações), que se revela uma mistura refrescante de energia contagiante e actual, apesar da sua sonoridade rudimentar, que depressa se entranha no ouvido e dificilmente de lá sai, pelo menos por algum tempo.
Uma surpresa particularmente agradável é a realização do vídeo do segundo single, "Bones", a cargo de Tim Burton, onde esqueletos dançantes enchem o televisor e onde se nota um dedo de mestre, quer no seu humor quer na sua bizarria. É também esta música um dos pontos de maior interesse do álbum, e uma ponte sólida para a recta final deste, que é particularmente inspirada.
Pelo meio ficam "Bling (confession of a King)", "My List", "Read My Mind" ou "This River is Wild", para referir alguns dos momentos mais particularmente inspirados, a acrescentar aos já referidos acima. Mas a mais interessante magia desta nova experiência dos The Killers reside precisamente na sua estranheza aparente. Estamos perante um caso em que primeiro se estranha, mas depois se entranha. Só é pena que estando entranhado, não dure tanto tempo como seria desejado. Contudo, é bom enquanto dura, e extremamente viciante; e na sua doce simplicidade consegue ser uma cativante forma de música, ainda que não chegue às andanças de ser colocado no altar e ser relembrado daqui a meia dúzia de anos, como de resto aconteceu com "Hot Fuss". Fica antes registado como um digno sucessor deste.
Classificação:



Não acho nem "Hot Fuss" tão bom nem este "Sam's Town" assim tão mau, embora seja pior do que o seu antecessor. Desta vez os Killers perderam alguma da sensibilidade pop que continham no primeiro registo (nos singles, sobretudo) e enveredaram por territórios sonoros duvidosos que não precisavam de ser revisitados. O resultado é tolerável, mas longe de memorável.