terça-feira, novembro 21, 2006
Muse vs Placebo
Muse, por not_alone

Os Muse percorreram um longo e tortuoso caminho para chegar ao nível de reconhecimento que têm hoje em dia. No ínicio da sua carreira carregavam o pesado fardo de serem, repetitivamente, comparados aos Radiohead. As semelhanças eram evidentes, especialmente entre os dois vocalistas, mas os Muse tinham algo mais a mostrar do que cópias baratas de The Bends.

Ainda à procura de um estilo próprio em Showbiz, o primeiro álbum, a banda mostrava, ainda assim, bastante potencial. Aliás, Sunburn, a primeira música, já revelava o grande apoio dos Muse no piano e nas melodias que, tímidamente, se vão transformando em gritos de raiva. Assim como Muscle Museum que, apesar de soar totalmente a Radiohead, continua a ser uma música portentosa.

Irreverentes e fiéis a um estilo pop-rock alternativo, as músicas dos Muse são de uma intensidade cósmica. Quando os Radiohead decidiram tomar um rumo diferente, mais próprio, menos imediato, os Muse tomaram o lugar deles. Mestres a criar hinos de uma geração, a banda consegue a proeza de fazer música alternativa para as massas. Com Origin of Symmetry (2º álbum) conseguem, pela primeira vez, um público próprio, não fosse este um dos mais interessantes álbuns do novo milénio.

Daí em diante, os Muse não pararam de surpreender. Se Origin of Symmetry foi uma viagem em espiral por um ambiente futurístico e de novidade digital decadente, já Absolution é um disco mais cru, mais agressivo, mas não menos reivindicativo. Pós 11 de Setembro os Muse decidem tomar uma posição política e usam a subjectividade da música como instrumento maior. Time is Running Out é um desses veículos, que roça a perfeição. É o single mais eficaz, uma viciante música de rock, um manifesto Anti-bush, apoiado num vídeo que evoca Dr. Strangelove, de Stanley Kubrick.

Por esta altura já tinha tido o previlégio de os ver em duas situações diferentes (Na Aula Magna e no Super Bock Super Rock) e de presenciar a sua força em palco. Não só se confirma o talento da banda, como a sua boa disposição e a magnificência da voz de Matthew Bellamy.

Este ano, brindaram-nos com mais uma pérola da música. Black Holes and Revelations. Afirmam que não têm medo de mudar e de exprimentar coisas diferentes. Mais perto de uma vertente dance, os Muse tornam o disco-sound em disco-rock e Supermassive Black Hole, qual I Will Survive, teima em não nos largar a cabeça.

Não lhes falta talento e imaginação, cá estamos para ver como nos vão surpreender a seguir.


Placebo, por H.

Conheço Placebo de nome desde que se começaram a fazer notar por cá mas só muito tarde dei à sua música a atenção devida. Muito depois, diga-se, de ouvir Muse.
Os primeiros álbuns dos Placebo foram sérios casos de reconhecimento, um fenómeno tanto mais surpreendente quanto a sua postura provocadora. A banda conseguiu criar um estilo próprio tanto em termos musicais como de apresentação que a torna ainda hoje inconfundível.

O facto de a sua música ser conhecida não a torna menos difícil. Letras onde a tristeza é lançada em bofetadas e a revolta expelida sem concessões, nas canções lidam com confusões psíquicas e corporais, com traumas e quedas, numa exposição amarga da identidade contemporânea. Vidas alienadas, sem sentido, divididas entre vícios e prazeres. “And the sex and the drugs and the complications”, como versam em Meds.

A aparência andrógina cultivada pelo vocalista Brian Molko e a indefinição sexual que transporta para a música da banda, deram aos Placebo uma aura ainda mais excêntrica, embora só alguém de vistas curtas os resuma a esse exibicionismo.
Na verdade, o que os Placebo tocam é a confusão da juventude do mundo moderno, as suas tentações e fraquezas, as suas arrogâncias e fragilidades, centradas no drama existencial do indivíduo.
Enquanto os Muse se concentram mais em questões de coração, os Placebo elaboram subtilmente um manifesto do ser engolido pelo meio, mutilado pela vida, rejeitado pelos demais, sofrido mas sempre dotado de uma auto-consciência acutilante.

O seu trabalho foi reconhecido não só pela crítica e pelo público como pelos seus pares, como evidenciam duetos com David Bowie, Michael Stipe (dos R.E.M.), entre outros. Refira-se ainda a sua participação no filme Velvet Goldmine, de Todd Haynes, que se ambientava no universo do glam rock dos 70s.
Essa ligação inegável entre os Placebo e o glam rock insere a sua música numa linha evolutiva, que conquanto homenageie as raízes, incorpora os seus contributos no rock alternativo actual. Alternativo pois embora a popularidade do trio seja imensa, o que representam é tudo menos “do sistema”. O que cantam e a postura que assumem, é a de um forte “fuck you” social.

Elogio do marginal, solidão maquilhada, feridas de crescimento, liberdade estiolada pelo meio, fraqueza e afirmação, tudo converge em temas que se tornaram provavelmente clássicos para uma geração que tantas vezes se sente à deriva e à margem.
A força da sua música permanece a mesma de quando começaram, nos anos 90, e os últimos trabalhos, conquanto desiguais, revelam algum amadurecimento.
É verdade que os seus melhores discos já têm alguns anos. Mas se atentarmos nos Muse, também não foi com o último trabalho que se superaram. Tendo em conta o melhor que uns e outros fizeram, acredito que os Placebo fiquem numa posição favorável.
É a irreverência, e bendita seja ela.

posted by Anónimo @ 6:03 da tarde  
15 Comments:
  • At 6:32 da tarde, Blogger P.R said…

    Do pouco que conheço das duas bandas, o prato desta balança cai para o lado dos Muse :) Mas parabéns aos dois pelos belos textos :)

     
  • At 7:33 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    São duas bandas que muita gente adora. Eu por mais que tente não consigo gostar nem de uma nem de outra. Vi Placebo no SBSR sentada no chão a tentar tirar uma soneca. Nem o concerto me cativou.. Se tivesse que optar, ficaria por Muse.. mas muito forçado :|

     
  • At 11:09 da tarde, Blogger Juom said…

    Não sou profundo conhecedor de nenhuma das bandas para poder escolher uma delas, mas confesso que o concerto de Placebo em Paredes de Coura em 2003 foi brutal, de uma energia contagiante e verdadeiramente poderoso...

     
  • At 2:21 da manhã, Blogger gonn1000 said…

    De longe os Placebo, têm álbuns mais consistentes e versáteis, canções menos formatadas, uma personalidade mais vincada e menos postiça, e não se agarram tanto às influências (sim, os Muse já não soam tanto a Radiohead, antes a um misto destes com uma carga barroca a la Queen). É certo que "Meds" foi uma semi-desilusão, mas mesmo assim consegue ser melhor do que "Black Holes and Revelations".

     
  • At 12:08 da tarde, Blogger Francisco Mendes said…

    As ferramentas musicais destas bandas são bastante limitadas... e não me refiro somente ao facto de a cada novo album perderem mais um pouco de qualidade.

     
  • At 12:27 da tarde, Blogger P.R said…

    Já sabemos Francisco... Para ti é mais Tool ;)

    Abraço

     
  • At 1:06 da tarde, Blogger Francisco Mendes said…

    Raios... fui descoberto!!
    Não devia ter utilizado o itálico... :)

    Forte abraço Pedro!

     
  • At 3:07 da tarde, Blogger gonn1000 said…

    Vejo na recorrente presença de um estilo megalómano, épico, vincado por uma sofreguidão hiperbólica, que por vezes é feita de forma interessante mas que ao fim de quatro discos já começa a cansar. O primeiro single do novo álbum, "Supermassive Black Hole", sugeria outras paisagens, que o disco não confirmou por completo.

     
  • At 12:27 da manhã, Blogger not_alone said…

    Eu, apesar de ter defendido os Muse,sou também grande fã dos Placebo, mas percebo a opinião geral de que, em ambas as bandas, a cada novo álbum se tem perdido qualquer coisa. Com excepção do 1º álbum dos Muse que, quanto a mim, é o pior de todos. Uma das mais fortes razões que me levou a defender os Muse em detrimento dos Placebo foi mesmo o facto de achar que, apesar desse decréscimo na qualidade, ainda conseguem surpreender e criar grandes músicas. Os Placebo têm sido apenas mais do mesmo, de qualidade satisfatória, mas longe do arrojo de outros tempos.

     
  • At 5:00 da tarde, Blogger Ana said…

    só a voz do brian...<3 os placebo têm algo mais, na minha opinião. mas eu também sou suspeita.
    tive a sorte de ver as duas bandas ao vivo, este ano. são as duas muito boas, acho que não se pode falar 'da melhor'. depende do gosto, e dos sentimentos que as músicas ou o modo de estar da própria banda criam em cada um.
    mas os placebo.. 8))

     
  • At 7:44 da tarde, Blogger Loot said…

    Apetece-me brincar um pouco e dizer: Muse VS Placebo, o vencedor é Radiohead.
    Mas a sério, gosto bastante das duas bandas ou pelo menos de álbusn específicos delas. Acho os Muse melhores músicos, mas os Placebo têm mais personalidade, ou já tiveram.
    Os dois primeiros álbuns dos Placebo são muito bons, contagiantes, rebeldes, e apesar de gostar dos álbuns posteriores a banda a partir do black market music, tem perdido muito.
    Os muse (não conheço o 1º) têm um grande 2º álbum, o 3º também é porreiro, mas faltava qualquer coisa, e este último quando ouvi o single gostei muito, não só pela música mas por tar bastante diferente do que estava habituado, mas como o gonçalo disse, depois de ouvir afinal as mudanças não foram assim tantas, confesso que só ouvi o cd de raspãp ainda não lhe prestei a devida atenção, mas deixou-me um pouco desiludido estava à espera de mais.

     
  • At 6:31 da tarde, Blogger catarina ribães said…

    na minha opinião, de longe, MUSE! =)

     
  • At 10:35 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    A minha banda favorita é Placebo, sem dúvida, e não os conseguiria descrever melhor do que tu.
    Não digo que seja superior a Muse, mas a verdade é que Placebo 'fala' comigo...e faz-me sentir cada letra das suas músicas. Ai...e a voz do Brian..
    Curiosamente Muse fica em 2º lugar nas minhas preferências juntamente com Radiohead.
    Ainda nao vi nenhuma das duas bandas ao vivo, mas espero ver Placebo no Creamfields :)

     
  • At 8:49 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Muse sem dúvidas nenhumas...as músicas deles fazem-me sentir livre, e explicam o que eu sinto.
    Adoro que o Matt(vocalista) transcreva o fanaticismo pelo espaço nas suas músicas, como Apocalypse Please, Starligth(..)
    Sou uma grande fã deles, nunca gostei tanto de uma banda como gosto deles...Muse!

     
  • At 3:03 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Nao da pa escolher qual a melhor, sao as minhas duas bandas favoritas, e por isso, para mim as melhores!

     
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