Os filmes de guerra nunca exerceram um grande fascínio sobre mim, mas com Full Metal Jacket foi diferente. O que me arrebatou neste filme, para além dos seus virtuosismos técnicos, foi a ironia ácida que está por detrás de cada cena. Cada frame é marcada pela visão peculiar e tenebrosa que Kubrick tem da guerra, visão essa que atinge o seu expoente máximo no arrebatador final do filme.
No entanto, Full Metal Jacket apresenta duas partes bem distintas. A primeira centra-se no recrutamento e no treino dos jovens soldados que sendo uma parte fundamental para perceber as suas motivações no campo de batalha, é, sem dúvida, a parte mais bem conseguida do filme. É exactamente nesta parte que nos é apresentado o Sargento Hartman, um desempenho absolutamente devastador de R. Lee Ermey que, com um simples olhar, espelha toda a arrogância e quase malvadez que todos nós, secretamente, pensamos existir nos responsáveis pelo recrutamento militar. Kubrick pega assim nos nossos receios e maximiza-os com uma personagem estranhamente real. É neste contexto também que surge a soldado Pyle e cuja evolução é das mais marcantes da história do cinema, culminando numa cena absolutamente genial.
Desta forma, se a passagem para a segunda parte do filme é intocável, o desenvolvimento da mesma não o é. De facto, apesar de se exibir igualmente num patamar elevado, a verdade é que o filme vai perdendo algum fulgor narrativo, o que o afasta do estatuto de obra-prima. No entanto, Kubrick redime-se com um final digno de toda a sua filmografia e que, de certo, irá arrepiar todos aqueles que estiverem imbuídos no espírito do filme.
Um último apontamento em relação ao paralelismo que se pode fazer entre Full Metal Jacket e Jarhead, quer ao nível da estrutura narrativa, quer do inicio do filme quer mesmo, episodicamente, em termos de fotografia. No entanto, Mendes não é Kubrick e Jarhead não é, de modo algum, Full Metal Jacket.
Classificação:




Barry Lyndon 
Sem grandes rodeios, Barry Lyndon é uma autêntica obra-prima. Extremamente inovador para a época, para o qual foram desenvolvidos novas câmaras capaz de filmar interiores com luz exterior, este filme de Kubrick é irrepreensivelmente escrito, genialmente realizado e interpretado sem mácula, o que faz dele um dos mais representativos da excelência de Kubrick.
Sendo uma verdadeira epopeia humana, o filme segue a história de Barry Lyndon, mostrando a forma como se desenvolve quer em termos sociais quer em termos humanos. De facto, se no inicio temos um jovem Barry inocente e embriagado de amor por uma prima, no final temos um Barry Lyndon corrompido pela sociedade e pelo dinheiro, um homem arrogante e perverso cuja capacidade de sentir e de amar se vai diluindo à medida que o tempo passa.
Filmado quase na totalidade através de câmaras fixas, o filme acompanha cerca de 20 anos de vida de uma personagem de forma verdadeiramente consistente e credível e, embora o filme não seja muito pequeno (184 minutos), a verdade é que a experiência de ver Barry Lyndon é algo transcendental. De facto, e tendo em conta a actual desinspiração de Hollywood em relação às biopics, penso que Barry Lyndon dá o exemplo perfeito de como se pode contar a história de uma pessoa de forma irreprensível.
Sendo, na minha opinião, ligeiramente inferior a Clockwork Orange, a sua grande obra-prima, a verdade é Kubrick tem aqui o grande épico da sua filmografia, e que nos faz, inevitavlemente, relembrar grandes clássicos como E tudo o vento Levou. Barry Lyndon: um filme incrivelmente bom e absolutamente imperdível.
Classifação:





Apesar de não conhecer muito da obra de Kubrick, não há dúvida que marcou o mundo do cinema. E lendo críticas como esta é cada vez maior a minha vontade de conhecer e apreciar a sua grandeza e talento! Fico à espera da próxima ;) ***