
Rabia quer dizer raiva em castelhano. Raiva é o que Camila Sepúlveda (Carola Carrasci) vai acumulando ao longo de quase um ano à procura de emprego. Todo o filme acompanha esta mulher de 25 anos numa sucessão interminável de esperas para entrevistas para o posto de secretária, detendo o olhar também nas outras candidatas ao lugar. Vamos sabendo fragmentos das suas vidas, há quanto tempo estão desempregadas, quais as suas habilitações, quais as suas dificuldades e esperanças. Tudo no filme é um lento calvário, e o crescente desalento da protagonista vai-se tornando a pouco e pouco imenso e extremamente tocante. Para tal muito contribuiu o desempenho de Carola Carrasci, num exercício de contenção muito bom. “Rabia” chega-nos do Chile, país de origem da obra vencedora do grande prémio da edição do Indie do ano passado, “Play”. Todavia, trata-se de um trabalho muito diferente. A primeira obra escrita e realizada por Oscar Cárdenas Navarro pode apresentar algumas fragilidades de primeira obra mas são compensadas pela urgência do tema. Filmado com câmara digital, o filme tem um tom que se aproxima muito do documental, quase da reportagem. Rodado em dois dias, em espaços reais e com contributos de improvisos dos actores, “Rabia” reveste-se deliberadamente de uma aura realista e poderíamos mesmo dizer que há aqui filme-alerta: Cárdenas Navarro pretende denunciar o inferno do desemprego e a luta inglória para sair dele. E a saída por vezes é tudo menos um alívio, como se pode observar na parte final do filme. Um filme que vale antes de mais pela forma como serve as suas intenções. Diria que como filme-alerta acaba por ser mais alerta que filme, mas independentemente disso não deixa de ser uma obra perturbadora e necessária.   |