segunda-feira, setembro 11, 2006
United 93 - Visões diferentes do mesmo filme



Porque é que United 93 é uma obra-prima?

H.: United 93 foi um filme que aguardei com interesse moderado na medida em que me pareceu demasiado alarido promocional para pouco resultado. Quando o vi no cinema mudei radicalmente o meu parecer. Paul Greengrass eleva-se a uma dimensão cinematográfica magnífica, filmando com uma crueza arrepiante o que sucedeu em vários locais durante algumas horas do 11 de Setembro. Dos controladores aéreos às hospedeiras do voo 93 da United Airlines o filme é tão despretensioso e realista que é quase um documentário, filmado sem celebridades ou verbas exageradas, mas centrando-se numa intenção de objecto de memória. Assumidamente, é um filme para que o mundo não esqueça, mas ao invés de uma homenagem sentimentalista, é um retrato tão fidedigno que é como se uma câmara lá estivesse e nada tivesse sido encenado. O perturbador é isso. É a “normalidade” de tudo. É isso que torna United 93 um filme que ultrapassa a mera dimensão de filme para ser quase um “documento”. É, sem qualquer dúvida, uma das obras fulcrais de entre as estreias deste ano – a par do recentemente estreado Paradise Now.

Porque é que United 93 é um filme vulgar?

Ana Silva:
Primeiro que tudo, não chamaria United 93 de filme. Na minha opinião, o cariz documental é o que mais caracteriza esta película, que nos mostra pouco mais do que já imaginaríamos nas nossas cabeças. Todo o enredo gerado em torno do que aconteceu no dia 11 de Setembro, há exactamente cinco anos atrás, acaba por ser demasiado linear e minimalista nos pormenores, não incutindo qualquer tipo de dramatização no espectador.

Por outro lado, a grande maioria de United 93 é composta por imagens dos bastidores deste atentado: o que aconteceu nos postos de controlo, nas companhias aéreas, nos agentes que perderam contacto com os aviões. De facto, muito deste ‘documentário’ são telefonemas entre representantes e militares, que procuram encontrar mais informação e chegar a um consenso sobre como intervir na situação e conseguir evitar a catástrofe.

É por tudo isto que não considero, de alguma forma, United 93 uma grande obra, ou algo extraordinário. De facto, não consegui emocionar-me com nenhuma das cenas, com nenhuma das personagens, ou sequer com a situação em si, que já foi tantas vezes alvo de análise nos últimos anos. Na verdade, acho que United 93 mostra simplesmente um sem fim de procedimentos políticos e militares que não se conseguiram integrar como deviam, e que acaba por não acrescentar muito a todos aqueles que acompanharam de perto toda a mediatização posterior ao atentado.

No fundo, sem querer denegrir a película, atribuo-lhe sim um carácter documental de qualidade, bem conseguido, que demonstra um equilíbrio de análise. Com efeito, tal como as imagens dos terroristas não surgem como um ataque directo e profundo ao mundo árabe, United 93 também não é um ‘hino’ à nação americana, deixando explícitas algumas incapacidades do seu regime político e militar.
posted by Anónimo @ 10:02 da tarde  
5 Comments:
  • At 10:00 da tarde, Blogger P.R said…

    Dou um passo em frente e coloco-me ao lado da Ana Silva. United 93 não é um grande filme quanto menos uma obra-prima. Porquê? Porque há uma promiscuidade de estilos que em tudo lesa o filme. Um filme ou um documentário? Na minha opinião, o facto de Greengrass quer tornar o filme (porque o é) num documentário é a razão do descalabro. Se fosse um documentário estaria, de facto, muito bom. Mas não o é, e não é porque ninguém pode dizer que tudo se passou como o filme nos apresenta. É, por mais que custe, um objecto adaptado de factos verídicos mas toda a acção que se passa no avião é ficcionada, ponto final. E é exactamente aqui que o filme falha. Não há nenhuma profundidade dramática naquelas "personagens", nenhuma. Não passam de figuras estereotipadas, que é supostamente a antítese do que se quereria. Enfim, um filme claramente falhado.

     
  • At 10:18 da tarde, Blogger not_alone said…

    Eu tenho de me pôr do lado da Helena, porque considero United 93 uma obra fantástica. Adorei a forma como é abordado, a vertente documental, obrigando-nos a ser apenas mais um espectador daquele episódio. Não concordo nada com o P.R. quando diz que os personagens são estereotipados. Passam a ideia de serem apenas pessoas como as outras, numa situação extrema, e esse sim, era o resultado que se queria ;)

     
  • At 11:18 da tarde, Blogger P.R said…

    um filme ficcional com um caracter documental mais não é que manipulação do telespectador. Querem nos fazer acreditar que algo é de uma forma, quando não se têm a certeza se assim o foi. Pessoas estereotipadas era o que se pretendia? Então percebi mal a lógica do filme e, no seu extremo, a lógica do cinema. Passar a ideia que são pessoas normais, como as outras, como dizes, é talvez o aprofundamento dramático mais complicado de se fazer.

     
  • At 12:42 da manhã, Blogger Pedro Duarte said…

    Sobre isto ... pois ...

    http://www.loosechange911.com/timeline.htm

    http://www.loosechange911.com/timeline.htm

     
  • At 2:01 da tarde, Blogger Juom said…

    Sobre o filme, tenho opiniões algo contraditórias. Gosto do estilo e da abordagem em jeito documental, mais ou menos ficcionado - porque o documentário é sempre ficcionado por aquele que o faz.

    Mas também concordo que nem por a obra se servir desse carácter documental deva haver desculpa para não se aprofundar um pouco mais as personagens (e há documentários puros em que elas são bem mais ricas do que em muitas ficções). Aliás, o terrorista que pilota o avião acaba por ter uma dimensão dramática curiosa e muito interessante. Ainda assim, consegui sentir a tensão desconfortável nos momentos finais do filme que, confesso, me envolveram particularmente.

     
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