Pó cheira a raio de sol, mel bravo à liberdade, boca da moça à violeta, e o ouro não cheira a nada. A reseda cheira à água, amor à maçã rescende, mas agora já sabemos – só o sangue cheira a sangue… Em vão o pretor romano se lavava as palmas grossas sob os gritos da plebe. E a rainha da Escócia debalde raspava as gotas vermelhas da mão esguia na penumbra sufocante da real moradia. Anna Akhmátova, 1943 (tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra)  Poema integrante da antologia Só o sangue cheira a sangue, editada pela Assírio e Alvim. Uma boa introdução a esta magnífica poeta russa, que sentiu na vida e testemunhou na escrita os horrores do totalitarismo. |