Mike Ott fez uma breve apresentação do seu “
Analog Days”, dizendo que se inicialmente a ideia do filme era revolver em torno da política, tornou-se numa forma de expressar o alheamento dos jovens dessa mesma política. De facto, os momentos dos vários meses que compõem o filme são acompanhados de uma eleição senatorial, um bom pretexto para tentar perceber o desinteresse dos jovens.
É em “The Hottest State” que aparece um poster de “Masculin Feminin” de Godard, mas foi em “Analog Days” que me veio à cabeça esse filme. Sendo uma obra de ficção, “Analog Days” tem algo de documental, de caseiro. Filmado com actores desconhecidos numa pequena cidade nos arredores de Los Angeles, o filme de Mike Ott quer mostrar algo que existe: a passividade de um grupo de jovens perante escolhas e responsabilidades, num mundo que criticam mas que não têm vontade de mudar (paradigmático o “confronto” entre um dos jovens do filme e um dos tipos representativos de uma massa que despreza mas a quem não é capaz de fazer frente abertamente).
Há um momento em que uma das personagens pergunta a outra o que estarão eles a fazer daí a cinco anos, se estarão na mesma ali. Ela murmura que espera que não. O filme de Mike Ott coloca-se aí mesmo nesse impasse, nesse não saber, nesse vazio do presente.
No final, onde quatro amigos se vão separando, a última personagem a aparecer no ecrã encontra-se parada num sinal vermelho, que depois muda para verde. O que se passa a seguir não importa, importa é o que simboliza esse momento. A escolha entre seguir e ficar parado.
Elemento fortíssimo de “Analog Days” é a sua banda sonora, onde figuram temas de Elliott Smith, Joy Division, New Order, Interpol, Clap Your Hands Say Yeah ou Bloc Party. Em rádio, cassetes e gira-discos, nostalgicamente (ou não).
O presente é demasiado desinteressante, revoltante até. “So here we are again”. O futuro é uma incógnita. E Mike Ott compreendeu muito bem um pouco do que é ser jovem hoje.
P.S. Este filme tem provavelmente o melhor poster do Indie!


