segunda-feira, novembro 13, 2006
Grandes Momentos | Une Femme est une Femme


Jean-Luc Godard é um nome familiar para qualquer cinéfilo e acredito que o fascínio que Godard exerce sobre nós jovens tem muito que ver com o simples facto de Godard ser também ele um cinéfilo, que transmutou esse amor maior ao cinema nos filmes que ele também fez. Talvez o fascínio por Godard incida sobretudo sobre os seus primeiros filmes, na explosão mágica da Nouvelle Vague.
O grande momento que escolhi é precisamente de um dos seus primeiros filmes, Une Femme est une Femme (em português Uma Mulher é uma Mulher), de 1961, protagonizado pela então sua musa e mulher Anna Karina.

Em Une Femme est une Femme, Anna Karina é Angela, a companheira de Émile (Jean-Claude Brialy) que insistentemente lhe pede um filho. Émile não quer, para já. E ela recorre a Alfred (Jean-Paul Belmondo), num jogo a três de brincadeiras de ciúme.
Quando finalmente Angela se apercebe que pode estar a perder o companheiro – quando Alfred lhe mostra uma fotografia de Émile com outra – é precisamente neste sublime momento de cinema. Não há diálogos das personagens, apenas a voz de Charles Aznavour cantando “Tu t’laisses aller” na jukebox do café. Ângela olha a fotografia, olha para algo (para si?), Alfred olha para ela. A canção toca. Na sincera confissão em tom de discussão, que culmina – após o rol de imperfeições que fazem o homem irritar-se com a sua mulher – com esse “malgré tout tu es ma femme” – declaração de amor das mais extraordinárias, porque assente na consciência do desencanto que o tempo sempre traz.

Quando pela primeira vez vi Une Femme est une Femme, na Cinemateca, as lágrimas rolaram-me pela cara nesta cena (já Angela dizia a dada altura que se devia proibir às mulheres não chorarem...). A perfeição existe no cinema e são momentos assim que o provam. Porque na imagem que Godard legou de Karina, neste e nos filmes que fizeram juntos, ele ensinou a forma ideal de se representar uma mulher, no fundo, a forma ideal de se amar uma musa «humana».

Apesar do momento que escolhi dever ser enquadrado no seu contexto, e para isso o visionamento completo do filme é indispensável, encontrei-o pelo YouTube e vou disponibilizá-lo aqui para os saudosistas e para os curiosos…

posted by Anónimo @ 11:31 da manhã  
2 Comments:
  • At 4:21 da tarde, Blogger Ursdens said…

    Magnífico!
    De facto "cinema é cinema..."

     
  • At 6:50 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Bah, muito obrigado! Eu estava atrás do nome da música que o Aznavour canta nesta cena (vi o filme recentemente e achei belíssimo, assim como este trecho).
    E o texto está bastante bem escrito, minhas congratulações.

     
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