Tive ontem o prazer de ver em ante-estreia um dos filmes independentes mais aplaudido do ano: Little Miss Sunhsine. Escrita por Michael Arndt e realizado por Jonathan Dayton e Valerie Faris, o filme tem sido ovacionado pela crítica americana e pelo público, tendo 8.2 no Imdb (ocupa já a posição 199 dos 250 melhores filmes de sempre) e 93% de críticas positivas no rotten tomatoes. Na verdade, Little Miss Sunshine merece cada um dos elogios que lhe é feito.
O filme é um roadmovie/comédia sensível e intimista acerca de uma família disfuncional americana, os Hoovers. Assim, temos o pai, obcecado pelas 9 passos do sucesso, a mãe que tenta impedir a separação da família, o tio homossexual que tentou suicidar-se após perder o seu amante, o emprego e a reputação, a filha viciada em concursos de beleza, o filho adolescente que idolatra Nietzche e que fez um voto de silêncio até conseguir ser piloto das forças armadas e o avô viciado em cocaína. Quando tomam conhecimento do concurso de beleza Little Miss Sunshine com a qual a filha sempre se sonhou e se tem vindo a preparar há meses, a família junta-se e a bordo de uma carrinha amarela tenta chegar a tempo da filha participar no concurso.
A primeira coisa que urge salientar é o fantástico elenco do filme, que revela uma homogeneidade singular. Todos os actores estão bastante acima média conseguindo por-nos a rir numa cena, e comover noutra. Neste contexto, permitam-me os restantes actores que destaque o trabalho de Steve Carell que, muito longe das suas habituais participações, é de uma contenção que roça o limite, transparecendo com um simples olhar toda a sua angústia e frustração. No entanto, a pequena Abigail Breslin também é encantadora e espanta todos pela força da sua actuação e pela emotividade que transparece.
Voltando à história do filme, desta vez para uma análise mais profunda que uma mera sinopse, Little Miss Sunshine é um retrato cru e verosímil dos problemas de uma família e dos membros que a compõem. Dotado de uma complexidade nem sempre visível em películas deste género, o filme oferece-nos das personagens mais complexas e interessantes do ano, dando a cada uma delas pequenos pormenores deliciosos. Frisando o poder do amor, da família e do quão saboroso e transformador pode ser o fracasso, Little Miss Sunshine mostra-nos que a dor pode e deve ser impulsionadora da felicidade, providenciando a aprendizagem necessária para atingir tal estado. Aquela viagem é bastante mais do que quilómetros percorridos, é o olhar para dentro, o reconhecer das feridas que sempre assumiram a sua omnipresença e a tentativa de as sarar através do apoio daqueles que sempre estiveram perto mas sempre pareceram distantes.
Sendo um filme de personagens e de interpretações, Little Miss Sunshine é, sem dúvida, um dos melhores filmes estreados em Portugal em 2006. Apesar dos pequenos problemas em manter uma consistência em termos de narrativa, a verdade é que o filme está dotado de pormenores e situações absolutamente hilariantes e fascinantes graças ao seu argumento espantoso que, caso aconteça, como espero, será um justo nomeado na categoria homónima dos Óscars.
Classificação:




Já faz um tempinho que fiz uma antevisão sobre o filme. Considero-o um dos mais promissores deste final de ano, por tudo o que já foi dito. Ainda para mais, também o Take a Break gostou. A ver, quando possível!
Cumprimentos.