sábado, janeiro 26, 2008
The Darjeeling Limited

Wes Anderson é um dos melhores autores de uma ‘nova geração’. Daqueles que desde a primeira curta (“Bottle Rocket”, que depois foi feito como longa) assumiu um universo muito particular e que se mantém, com poucas variâncias, até agora. Personagens meio perdidas, quais crianças grandes com idiossincrasias de crianças e de grandes, a incapacidade de exteriorizar emoções e, em última análise de relacionamento, a família... Tudo isto filmado com um notável sentido de movimento e temperado com uma cor absolutamente extraordinária de tão ‘solar’.

“The Darjeeling Limited” é claramente um filme de Wes Anderson, com tudo o que amamos nas suas obras anteriores. Chega a Portugal três anos depois de “The Life Aquatic With Steve Zissou” e vem com um brinde que muitos países não tiveram: é precedido de “Hotel Chevalier”, a curta que Anderson filmara como primeira parte para o filme e que já circulava pela internet desde o Verão. E diga-se que o seu visionamento antes da longa é indispensável para a compreensão de algumas cenas.
“Hotel Chevalier”, juntamente com toda uma primeira parte de “The Darjeeling Limited” comprova a capacidade que Anderson tem de trabalhar em espaços fechados. No primeiro trata-se de um quarto e hotel e no segundo de uma carruagem de um comboio, e a maneira como ele filme faz parecer que cada espaço é um espaço novo. Os acessórios têm um papel importante na construção de um certo “estilo” visual, que combinados com o trabalho da cor imprimem aos filmes uma estética muito particular.
O tema central é, uma vez mais, a capacidade (ou falta dela) de pessoas se relacionarem. Em “The Darjeeling Limited” encontramos três irmãos em viagem pela Índia e obrigados a interagirem, coisa que pelo que dizem não faziam há um ano. A sua forçada convivência num ambiente estranho (que os fascina desde o início mas que nem por isso deixa de ser estranho) dá azo a situações onde um delicioso humor se conjuga com uma certa tristeza – aquele mostrar coisas sérias a brincar que Anderson nos habituou desde o início e que aqui tem alguns momentos prodigiosos. É um filme de viagens, como era o anterior, uma viagem que acaba por encontrar um rumo e por marcar uma aprendizagem: a amizade entre irmãos que podiam ser família mas não se viam como amigos em quem confiavam.

Um dos trunfos dos filmes de Wes Anderson é a escolha certeira dos actores, alguns dos quais se tornaram participações habituais (ver a memorável sequência inicial com Bill Murray ou a mãe Angelica Houston). Aqui essa escolha é bem capaz de ser das melhores. O trio de actores que dá vida aos irmãos é composto por Owen Wilson, Jason Schwartzman (que co-escreveu o argumento com Anderson e Roman Coppola) – já conhecidos de obras anteriores do realizador – e por uma magnífica nova aquisição, Adrien Brody. Eles são excelentes, tanto separados como, sobretudo, juntos. São simplesmente perfeitos na sua composição de imperfeições.
Outro dos triunfos é a banda sonora, que aqui alterna músicas de filmes indianos com a pop agridoce dos The Kinks (“This time tomorrow” é daquelas canções que nos comovem de maneira especial de cada vez que a ouvimos). Escutamos até “Les Champs-Elysées” que nos deixa uma estranha vontade de seguir naquele comboio...

“The Darjeeling Limited” é, em conclusão, um reencontro com tudo aquilo que gostamos no cinema de Wes Anderson. Um filme que responde a todas as nossas expectativas e nos deixa uma vontade imensa de voltar a rever os filmes anteriores deste originalíssimo autor.

posted by Anónimo @ 12:54 da tarde  
3 Comments:
  • At 2:39 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Já há algum tempo que te leio aqui e continuo a ver que continuas a apresentar escolhas tão boas como antes, felizmente com muito mais idas à Cinemateca pelo que me parece ver (e que boas escolhas de imagens) no "as imagens primeiro". O teu outro também era muito bom, aqui assume-se mais um papel de comunidade? Não sei, não consigo ver efectivamente grandes mudanças entre o que escrevias no "play it again" e no que escreves no "take a break" (claro que a escrita está mais madura, mas os conceitos que abordas eram tão bons ou melhores no outro...). Alas, continuo a passear por aqui, porque em França sem o Medeia Card, e com os filmes entre 3.60 (a partir das 22h todos os dias) e os 4.70 (porque aderi ao cinema Méliès - bonito nome, não?) não vou mais do que 10 vezes por mês ao outro mundo. Não tenho cinemateca, infelizmente, por isso tenho de ver o pouco que consigo trazer de Portugal num leitor de DVD portátil, ou no PC dum amigo. Vou tentando informar-me bem, para só ver os que não me "desiludirão" (mas que tarefa complexa esta!). Recentemente: I'm a cyborg, Vier minuten, It's a free world (acho que todos estes irão aí passar). Em breve: Sweeney Todd, Zavet, No country for old men (e dois Chaplins, The kid e The circus, no ciclo para Crianças :O)).

    Bons filmes...

     
  • At 2:53 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Caro Paulo,
    É verdade que muita coisa é parecida, pelo menos o pouco que vou escrevendo de "críticas" de cinema no Take a Break segue muito a mesma maneira de escrever do antigo Play it Again. A diferença maior é essencialmente o sítio onde publico: este é um blog conjunto que não se dedica apenas ao cinema e onde acabam por se reflectir perspectivas (e gostos)diferentes sobre as coisas...

    É verdade que o ano passado foi muito mais ao cinema e muito mais à teca, que se tornou uma paragem recorrente muitas vezes por mês e onde amudereceu um gosto cada vez maior por filmes mudos.
    Em relação às estreias, o Medeia Card ajuda "economicamente" a ver muitas coisas mas não são raras as vezes em que prefiro pagar o bilhete para ir à Cinemateca ou a festivais (e tu sabes que o Indie e o Fantas, por exemplo, são sítios óptimos para se ver aqui filmes que não estreiam depois, como quase acredito que suceda com o I'm a Cyborg...).
    Ir a um cinema chamado Méliès é certamente algo de "mágico"... E ir ao cinema em Lisboa é cada vez menos "mágico" (até fechou o Quarteto...).
    Sweeney Todd estreia cá para a semana, mesmo dia do filme do Ang Lee e do do Sean Penn. Vai ser um 5ª em cheio. Aliás, acho que 2008 está começar mesmo muito bem (embora tenho ido pouco ao cinema este mês devido à época de exames).

     
  • At 9:38 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Não gostei de nenhum filme dele, mas simpatizei com o trailer deste. Devo espreitá-lo esta semana.

     
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