segunda-feira, outubro 16, 2006
Annie Hall vs Manhattan

Por P.R

Escolher entre Manhanttan e Annie Hall não é, como saberão aqueles que virão os dois filmes, algo fácil. A solução, porém, emerge dos próprios filmes de Woody Allen, ou seja, há que escolher de forma apaixonada aquele que mais nos toca, aquele que desperta em nós a multiplicidade de sentir. Desta forma, e apesar de reconhecer os profundos méritos de Manhattan, Annie Hall teve, e tem, o dom de me arrebatar e de me deixar absolutamente rendido à aura que o filme emana.

Annie Hall é um conjunto de momentos que se cristalizam numa obra perfeita. Pautado por uma construção, quer de forma quer de contéudo, absolutante incrível, Allen colecciona momentos memoráveis. Durante 93 minutos somos deslumbrados com a casa construída por debaixo de uma montanha russa que, metaforicamente, explica tão bem a personalidade de Alvy, com as cenas brilhantes em que as personagens viajam ao passado e se revêem nuns anos antes, com as cenas em split screen dos dois protagonistas e com a cena absolutamente singular em que Allen exprime os pensamentos das personagens através de legendas, que não correspondem exactamente aquilo que elas mesmo dizem … Mas a grandeza do filme reside na personagem que lhe dá o nome, Annie Hall. Allen dá ao cinema, e perdoem-me a afirmação hiperbolizada, uma das personagens mais sublimes da história do cinema. Annie Hall emana um perfume irresistível, revelador de todo o seu encanto e beleza. É extraordinário o poder de Diane Keaton e de Annie Hall, que se fundem numa só e nos enfeitiça com a doçura frágil que emana em cada olhar, em cada sorriso… Quer queiramos quer não, todos nós nos apaixonamos pela Annie Hall, pela sua forte personalidade, pela sua inesgotável energia e boa-disposição e, sobretudo, pela excelsa paixão que revela em cada pormenor.

Annie Hall é um dos filmes da minha vida. Tem as suas imperfeições, é claro, mas a própria vida é feita de percalços, de passos mais certeiros e de outros que nos fazem resvalar para os sentimentos mais recônditos. Felizmente, ainda existem muitas Annie Hall, que nos fazem olhar o mundo de uma forma apaixonada e que transformam as nossas inquietantes fraquezas em passos firmes. Obrigado…


Por Paulo

Escolher uma favorita entre essas duas grandiosas obras de um dos maiores realizadores do mundo é capaz de ser das coisas mais complicadas que fiz nos últimos tempos. Qualquer fã a sério de Woody Allen tem certamente Annie Hall e Manhattan no topo das suas preferências cinematográficas. Então o que me fez a mim, fanático do realizador nova-iorquino (daqueles que vê e revê os seus filmes a um grande rito), escolher a abordagem clássica de Manhattan em detrimento da irreverência formal e narrativa de Annie Hall?

Acima de tudo, impõe-se a velha razão: porque um me tocou mais profundamente do que o outro. Mas há, obviamente, factores de peso nesta escolha, que parte desde logo do seu título. Confesso-me também um apaixonado por todas as facetas com que a cidade de Nova Iorque nos brindou no cinema, local onde podem conviver as visões mais sujas (veja-se Taxi Driver) com as mais românticas, como é o caso. Nunca visitei a cidade, mas de certa forma vejo-a também como vejo uma grande actriz, capaz de mudar completamente de registo de filme para filme. E além de Allen se lançar numa declaração de amor à própria cidade, declara-se também àqueles que a habitam, analisando-os, criticando-os, homenageando-os... É uma fascinante sinfonia iluminada a preto e branco, ritmada pelos temas de George Gershwin, e habitada por um grupo de talentosos actores, todos eles no topo do seu jogo e capazes de debitar na perfeição os mordazes, inteligentes e hilariantes diálogos de Allen. Depois... depois temos aquele final tão agri-doce, capaz de me derreter completamente o coração, onde aquelas duas personagens são engolidas pela grandiosidade da cidade – independentemente do seu destino, Manhattan continuará a brilhar como sempre.

“Not everybody gets corrupted. You have to have a little faith in people.”
- Mariel Hemingway, como Tracy, em Manhattan.

E vocês? Annie Hall ou Manhattan?

posted by P.R @ 9:40 da tarde  
14 Comments:
  • At 10:18 da manhã, Blogger Ursdens said…

    Para mim, Annie Hall!

    Manhatan é bom, a fotografia é melhor, mas não me deslumbra.

    Annie Hall é "o filme" de Woody Allen...

     
  • At 10:44 da manhã, Blogger P.R said…

    Pois ursdens comigo aconteceu o mesmo.

    A fotografia é brilhante, a realização a melhor de Woddy mas lá está... não me arrebatou. Não tem para mim a magia e o encanto de Annie Hall. Opiniões :)

    Abraço

     
  • At 11:18 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Dois belíssimos comentários a dois grandes filmes :)

    Infelizmente, eu não tenho a vossa capacidade para conseguir escolher uma dessas obras...

    Já agora... parabéns pelo blog.

    RPT

     
  • At 12:20 da tarde, Blogger MPB said…

    Manhatan é quanto a mim o melhor.
    É possivelmente o melhor argumento e consequentemente o melhor trabalho de miss-en-scene de Allen, é fantástico todo o domínio da linguagem, desde o diálogo de 4 pessoas à mesa no início, ao momento no planetário, até mesmo aos espaços sentimentais e físicos em perfeita sintonia.

    Não será perfeito, mas anda lá perto.

    cumps

     
  • At 12:41 da tarde, Blogger Juom said…

    Isto para já é empate, que deve ser afinal o mais justo quando se comparam estas duas obras geniais ;-)

     
  • At 10:44 da tarde, Blogger Ana Silva said…

    Apesar de ainda não ter visto nenhum deles, confesso que fiquei cheia de vontade. A vossa argumentação é de tal forma intensa que nos delicia só de ler.. Espero que os filmes sejam igualmente deliciosos :)

     
  • At 11:20 da tarde, Blogger Carlos M. Reis said…

    Interessante este tipo de artigo com opiniões diferentes, sobre obras diferentes. Gostei, espero que repitam.

    Preferi Manhattan, e acho que o Paulo explicou bem porquê.

    Um abraço.

     
  • At 11:28 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    É a primeira vez que comento, mas tinha de defender um dos meus filmes preferidos :P

    Gostei muito dos dois, mas prefiro o Annie Hall pela sua ligeireza e, simultaneamente, pela sua profundidade. Acho que o P.R captou muito a essência do filme. Parabéns =)

    Tiago Pires

     
  • At 11:51 da tarde, Blogger Pedro Serra said…

    "Annie Hall".

     
  • At 3:17 da tarde, Blogger C. said…

    Ui, pergunta muito complicada!

    Adoro os dois mas, sob ameaça de morte, diria 'Manhattan'! :)

     
  • At 4:37 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Não costumo comentar no blog, mas achei engraçada (ou não :)) a ideia de ter que fazer esta escolha. Apesar das suas evidentes qualidades, Manhattan foi um filme que não me deixou uma marca tão autêntica e indestrutível como Annie Hall o fez... Adoro todo o filme. Não lhe consigo encontrar um defeito significativo e por isso mesmo é um dos meus filmes predilectos.

    Abraços.

     
  • At 5:35 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Na minha modesta opinião, Annie Hall é um filme mais imaginativo e mais marcante, muito devido à própria personagem...

    Voto em Annie Hall!! :P

     
  • At 1:50 da manhã, Blogger Ursdens said…

    Não voltei a comentar antes porque estive ausente uns dias.
    Mas vou tentar explicar, muito sinteticamente, porque prefiro Annie Hall:


    Não estou a falar de cinema, cinema puro, seja esse conceito uma quimera, ou não... Em termos de cinema, Manhattan é bem melhor.

    Annie Hall é o ensaio sobre o casal por excelência, tão só...
    Quem souber o que é a vida de um casal, ao ouvir o citado "Whatever", tem uma sintonia inexplicável com o filme...

    Annie Hall é de uma maturidade límpida...

     
  • At 12:50 da manhã, Blogger Nuno Pires said…

    "Annie Hall". Pela sua estrutura (passado/presente) absolutamente genial.

     
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