
Primeiro pressuposto: não vi a série Miami Vice e, como tal, é impossível fazer comparações. Segundo pressuposto: nunca vi aquela que dizem que é a grande obra-prima de Mann, Heat, que, pelos vistos, tem algumas similaridades em relação ao género e estilo. Terceiro pressupostom ( que mais não é que uma súmula dos dois anteriores): está análise restringir-se-á única e exclusivamente ao objecto Miami Vice de Mann, independentemente de todos os backgrounds que rodeiam esta obra.
Comecemos então pela história. Miami Vice é a história de Ricardo Tubbs (Jamie Fox) e Sonny Crockett (Colin Farrell) , upla de polícias cheios de estilo que se vêm obrigados a trabalhar como agentes infiltrados numa rede de droga ao fim de vingar os polícias assassinados anteriormente na mesma missão. No meio desta intriga policial Sonny acaba-se por envolver com Isabella (Gong Li) que é nada mais que a mulher do traficante de drogas e armas.
Simplista? Banal? Déjà Vú? É um facto, mas num filme deste género não se pode pedir um enredo demasiado inteligente e envolto em questões existenciais. O argumento satisfaz mas é a realizaão ultra-competente e o trabalho de casting irrepreensível que eleva o filme a um patamar bem mais elevado.
Michael Mann é sem dúvida um grande realizador. Criando momentos e atmosferas absolutamente fantásticas, o Mann impregna o seu filme com um estilo muito próprio balançando movimento de grande espectacularidade com outros mais simples e subtis. Veja-se por exemplo a forma como filma as cenas de acção e tiroteio e as cenas de intimidade dos protagonistas que, com planos inspirados e movimentos subtis, consegue ser bastante crível e embelezar a película com laivos cristalinos na imensa negritude e sujidade característico do mesmo.
Porém, nem tudo é irrepreensível. Apesar dos momentos fascinantes e dramaticamente brutais que Mann nos oferece com a sua visão, a verdade é que parece que o argumento sendo tão simplista não está à altura dos restantes elementos do filme. Se a relação entre Sonny e a Isabella é desenvolvida de forma suficiente, a de Ricardo com Trudy é demasiado superficial, não atingindo assim uma intensidade dramática satisfatória. No entanto, não é só a relação de Ricardo com Tuddy que sofre de pouco desenvolvimento, a própria personagem de Foxx é, diria eu, demasiadamente secundária. Na verdade, estava à espera de um co-protagonismo entre Farrell e Foxx mas na verdade a acção centra-se em Farrell-Gong Li. E é exactamente esta que tem o desempenho mais bem conseguido. Vindo de um grande desempenho em Memoirs of a Geisha, a verdade é que a actriz não só mantém o nível, como o aumenta. Dona de uma beleza invulgar, Gong Li consegue demonstrar com um simples olhar um poço de sentimentos, oferecendo aos espectadores uma performance radiosa, roubando as cenas a todos os actores, incluindo Farrell que, apesar de tudo, se encontra muito bem.
Com uma estrutura narrativa invulgar e bem conseguida, onde somos desde logo lançados na acção, e fazendo a apresentação das personagens pouco a pouco durante a história, Miami Vice é um blockbuster muito bem conseguido, aliando uma fotografia irrepreensível, a uma realização singular, pessoal e uma das melhores do ano, bons desempenhos, e a uma banda-sonora satisfatória. Se é um fiel seguidor da série? Como comecei a dizer, não faço ideia, mas que é um belo filme de acção, lá isso é.
Classificação:     |
Também gostei e concordo com a crítica, o Foxx tem pouco que fazer e cede o protagonismo a Farrell. 3/5