Entrei já atrasado no recinto do
SBSR, no final da actuação dos
Primitive Reason. Não estava demasiado preocupado porque os dois motivos que me levaram ao recinto iam ser as duas últimas bandas,
Placebo e
Tool.
O palco
Quinta dos Portugueses/Worten, para mim, foi uma miragem. Nada de grande peso a assinalar. Nada que se compare ao espectáculo que os
Blind Zero ou os
Wraygunn deram o ano passado no mesmo espaço. Claramente a encher chouriços para as bandas a sério do palco principal, os
X-wive,
Vicious 5 (que a par com os
Fonzie são as bandas portuguesas mais detestáveis no activo, que me perdoem os fãs, mas aquilo é péssimo),
DaPunkSportif e
If Lucy Fell foram aborrecidos, repetitivos e não trazem nada de novo ao panorâma musical nacional.
No palco principal, depois de
Primitive Reason, subiram os
Alice In Chains. Pelo menos o que resta deles, já que o seu vocalista morreu há alguns anos. A substituir estava um senhor com um aspecto algures entre o
Lenny Kravitz o
Ben Harper e
Chris Cornell. Deste último eram também notórias as parecenças na voz. Pessoalmente desconheço por completo os
Alice in Chains, sei que fizeram parte do movimento
grunge oriundo de
Seattle. Foram, ao lado dos
Nirvana,
Pearl Jam e (curiosamente)
Sound Graden, das bandas mais influentes dessa época, mas parece-me que, tal como alguém já o disse:
Grunge is Dead. Em suma, o concerto do
Super Bock era para os fãs, os saudosistas e alguns curiosos. Eu não desgostei mas acredito que há uns atrás e com o vocalista original o espectáculo tinha ganho outra dimensão.

De seguida foi a vez dos
Deftones e, não me vou alongar muito neste concerto porque, primeiro, não gosto dos
Deftones e segundo, porque não gosto dos
Deftones. O vocalista é uma versão gorda e anafada do
Fred Durst e tudo o que esteja relacionado com o nu-metal irrita-me. Ainda assim acho que se a banda se cingisse às músicas mais calmas tinha mais sucesso (musical entenda-se). Até porque quando o ponto alto de uma banda de pseudo metal é uma versão de
Ordinary Love,
de Sade, algo vai muito mal. É a segunda vez que os vejo e não notei grande diferença ou evolução, é mais do mesmo, desta vez sem a
Back to School, o seu maior êxito.
Placebo rompiam com o cenário pesado que se preparava para esta noite. Provavelmente tinham estado mais seguros ao lado de
Within Temptation, no primeiro dia, mas a banda de
Brian Molko adora um bom desafio. Fazer a ponte enntre
Deftones e
Tool não era fácil mas os
Placebo têm muitos anos de festivais e sabem como contornar estas dificuldades. Apesar de terem tido um começo a meio gás (as novas músicas, claramente, precisam de amadurecer),
Black Eyed marcou um ponto de viragem no concerto. A partir de aí tudo foi a subir. A intensidade da banda começou a revelar-se e o público rendeu-se ao som de
Special K,
Every You Every Me, e a mais recente
Song To Say Goodbye. Para mim a mais energética música da banda ao vivo é
Bitter End e foi, pessoalmente, o ponto alto do concerto. Faltou
Without You I'm Nothing, mas os
Placebo já fazem parte da mobília dos festivais de verão por isso aguardamos o regresso para uma nova dose de
Meds.

Finalmente chegou a vez dos
Tool e o cenário mais
light dos
Placebo fica bem distante. Metal underground duro é o que os
Tool têm para nos oferecer e, acreditem em mim, dificilmente vão ver um melhor espectáculo ao vivo do que este. Especialmente os fãs do género. O espectáculo da banda, nascida em 1990, é uma perturbadora experiência musical e visual, que passa pelas mais básicas emoções até ás mais distorcidas disfunções humanas. O elemento visual funciona como mais do que uma distracção, é um complemento à própria música. Faz tudo parte de uma só viagem que vale a pena aproveitar até ao último segundo. Uma viagem às raízes da banda, mais cruas, com o álbum
Ænima, passando pela genialidade das letras de
Lateralus e até mesmo descobrindo o interessante novo trabalho,
10,000 Days. A banda em si, combina uma originalidade que acaba por se esgotar a si mesma, mas que é a fórmula certa para um resultado impressionante em palco. Simplificando, os
Tool mesmo sendo originais já não se conseguem reinventar. Correm o risco de se tornarem previsíveis mas, até lá, continuam a ser reis naquilo que fazem e, mesmo já tendo visto a banda há uns anos, fiquei boquiaberto com o seu poder em palco. Foi, sem dúvida, o melhor que se podia pedir para encerrar o 1º Act de um dos melhores festivais portugueses.
que belo texto!! :D vou esperar ansiosamente pelo equivalente ao 1º dia do 2º act ;)