quinta-feira, outubro 05, 2006
The Pillow Man - O Homem Almofada


"Um bocadinho diferente..."


A arte de contar uma história a uma criança não é apenas uma forma de as distrair. É dar-lhe algumas ferramentas para que a sua imaginação e o seu intelecto se possam desenvolver. É através dessas histórias que se criam valores e morais, aos quais a criança se vai agarrar durante a sua vida.

Posto isto, The Pillow Man é uma história sobre várias histórias. Todas ligadas de certa maneira e que seguem um "tema" central. Em todas elas há uma criança magoada, que sofreu mais do que devia. Não sendo uma peça fácil de assistir, The Pillow Man lança-se no vasto mundo das histórias, dos seus propósitos, das responsabilidades que lhes podem ser imputadas e a quem as escreve. Será um escritor responsável por aquilo que as suas obras vão desencadear nas pessoas? Terá que responder a alguém por escrever coisas que nunca deveriam ser postas em prática? Perguntas que surgem durante esta densa viagem, num dia da vida de Katurian K. Katurian.



A complexidade das questões que este teatro aborda deixam-nos a pensar durante bastante tempo. Acorda-nos para algumas realidades que não conseguimos deixar para trás. De certa forma The Pillow Man é uma lição, não de vida, mas, para a vida. Mais do que isso, acorda em nós horizontes que nos fazem perceber o mundo de uma nova forma. Afinal de contas, como sabemos se a América é grande? Apenas porque nos dizem, como sabemos sequer que a América existe? Apenas porque nos dizem que existe. Passemos então à acção, partamos à descoberta dessas coisas que conhecemos apenas das histórias.



O sadismo e a perversidade são também temas abordados em The Pillow Man, acabando nós próprios por nos sentirmos algo culpados quando nos rimos de algumas das situações negras que se passam em palco. É um mundo perverso este dos que se riem do mal, é um mundo perverso, este em que as histórias matam, seria um mundo perverso, este, se nos privassem de obras como esta. De uma tensão angustiante, esta peça polémica, não é sobre depravações humanas, não quer tomar posições políticas e, definitivamente, não é uma história de embalar. Mas, de uma forma estranha e retorcida, acaba por ser tudo isso.

Tiago Guedes, o encenador, em conjunto com os 4 actores, Albano Jerónimo, Gonçalo Waddington, João Pedro Vaz e Marco D'Almeida, dão vida aos personagens e são eles que fazem chegar até nós toda a densidade dos textos. 4 perfeitas interpretações que nos deixam arrasados, chegados ao fim os 120 minutos de peça. Um verdadeiro murro no estômago que nos faz rir e chorar e que em momento algum nos passa ao lado.



Esta será daquelas experiências que me irá acompanhar durante muitos e largos anos.
A não perder no Teatro Maria Matos, até dia 15 de Outubro.

posted by not_alone @ 6:08 da tarde  
7 Comments:
  • At 11:58 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    tenho alguma curiosidade para ver esta peça mas não sei se terei disponibilidade... é pena mas ponho sempre o cinema como prioridade e acabo por perder algumas pérolas do teatro...

     
  • At 12:09 da tarde, Blogger not_alone said…

    Eu também costumo deixar sempre o teatro para 2º (ou ás vezes mesmo para 3º) plano, mas, depois desta peça, prometi a mim mesmo que vou passar a dar mais atenção ao que de novo estreia nos palcos nacionais.

    O que te posso dizer com toda a sinceridade é para deixares tudo o que tens para fazer e dar um pulo ao Maria Matos, porque obras primas como esta não surgem regularmente.

     
  • At 1:12 da tarde, Blogger Ana said…

    muito, muito bom! *

     
  • At 6:00 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Caro not_alone

    Muito obrigado pelo destaque e pelos elogios! Ficamos todos muitos contentes quando descobrimos que alguém, como tu, gostou tanto do nosso trabalho.

    Um abraço

    Albano Jerónimo

     
  • At 9:32 da tarde, Blogger Ensaio said…

    O teatro é a minha prioridade.E uma das razões que me leva a devorar esta arte é a capacidade de provocar inúmeras interpretações que podem levar a debates bastante interessantes.
    Parabéns pela tua interpretação

     
  • At 2:46 da manhã, Blogger Marina Fernandes said…

    Eu vi a peça, encenada por atores argentinos de alto nível!
    A história é simplesmente magnífica e forte! A lição que transmite, extraordinária.
    Vale a pena conferir!

     
  • At 9:52 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Posso apenas dizer que a peça é fantastica...... Se algum dia repetirem a experiencia estarei lá de certeza........ Todos os actores estavam espectaculares.......... ADOREI!!!!

     
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