Integrado na competição internacional do Indie Lisboa chega-nos da Húngria “
Fresh Air” (no original “Friss Levegö”), drama suburbano cinzento e desencantado.
Escrito e realizado por Ágnes Kocsis e Andrea Roberti, “Fresh Air” é um pequeno filme sobre a incomunicabilidade entre uma mulher, Viola, e a sua filha Angéla, uma jovem que sonha ser estilista e sente vergonha do trabalho da mãe como empregada de limpeza e vigilante numa casa de banho pública.
Ambientado num lúgubre espaço de Budapeste, com prédios pobres e ruas mal tratadas, “Fresh Air” é um retrato triste da vida de uma classe média baixa, vergada sob a rotina do trabalho e da carestia monetária. O aspecto socio-económico surge aparentemente como pano de fundo mas é indissociável deste fresco da vida de duas figuras das quais pouco mais sabemos que o seu quotidiano, algo insatisfatório para ambas. É a barreira da comunicação, alicerçada numa desistência de compreensão que se assume como tema central deste filme, obra com uma pulsão realista inegável, e com uma humanidade sem rodriguinhos.
Há como que uma prisão que envolve estas duas mulheres, cujo único momento de união parece ser a assistência à série “O Polvo”. Ambas esboçam tentativas de fuga (os encontros com estranhos da mãe e a partida para Itália da filha) que acabam por fracassar, e eventualmente acabam por aceitar a realidade. Mas essa, chamemos-lhe, tomada de consciência, que para a filha ocorre ao ouvir Nina Simone cantar “don’t let me be misunderstood” (momento lindíssimo), não é dada com floreados, mas na sua nua evidência. A comoção não é de todo estimulada, mas podemos descortiná-la.
Embora no geral “Fresh Air” ofereça pouco de novo nas situações que aborda, constituiu um trabalho interessante enquanto exercício sobre a incomunicabilidade e enquanto retrato social a partir de um caso. E revela uma jovem actriz a olhar com atenção: Izabella Hegyi.

