quarta-feira, fevereiro 24, 2010
O Laço Branco

É sempre grande a expectativa de ver um filme vencedor da palma de ouro em Cannes. Pese embora o facto de, nos últimos anos, o festival ter tido a tendência para premiar filmes políticos acima dos demais, certo é que algumas das maiores obras primas do cinema mundial foram merecedoras do galardão máximo do festival da Riviera Francesa. De qualquer modo, e tentando focar este último filme de Michael Haneke, parece-me que, no que toca ao conteúdo, não apresenta nada de novo.
Senão vejamos:
Há uma tentativa de retornar a um tema desenvolvido em Funny games, já não com adolescentes, mas sim com crianças, tentando evidenciar o seu lado patológico-cruel. Simultaneamente, quer o autor frisar, parece-me, a ideia de que as educações moralistas e ultra-disciplinadas conduzirão, inevitavelmente, aos antípodas do que com elas se pretendeu... Para isto o autor pega numa família puritana, chamemos-lhe assim, desmascarando a decadência que nela impera.
E o que é que há de tão original neste filme para que lhe seja entregue uma Palma de ouro?
Na minha opinião, nada... Seria quase como atribuir o nobel ao Saramago por ter escrito o Caim...
Se falarmos de cinema, cinema estrito, é verdade que a composição dos planos é equilibradíssima; é verdade que o preto e branco se justifica; é verdade que existe ali uma reminiscência do cinema de Bergman... Mas sem brilho, sem nada de novo no que ao argumento diz respeito...
Acrescento apenas o óbvio, ou seja, esta é a minha opinião..., o que equivalerá a dizer que, para mim, o Laço Branco será um filme que, com o tempo, esquecerei e nunca tomarei como referência...
posted by Ursdens @ 6:10 da tarde   8 comments
sexta-feira, fevereiro 19, 2010
Antichrist
Veio-me à ideia escrever aqui umas palavras sobre o último filme do Lars Von Trier que, aliás, considero um bom filme, salvo as repugnantes e dolorosas sinestesias que o mesmo em mim criou. Independentemente do conteúdo misógino que o mesmo encerra, e que espero apenas se deva a um estado depressivo que Trier recentemente atravessou, considero salutar que um realizador consiga exprimir tão bem por meio de imagens aquilo que lhe vai na real gana. Se é de um autor que falamos, e isso parece-me indesmentível, toda a panóplia de metáforas agonizantemente criadas para impressionar o espectador servem, só e apenas, o propósito de realçar o cariz autoral da obra. Dizer que concordo com Trier seria o mesmo que entrar em depressão, pelo que vou continuando a guardar a minha boa impressão daquilo a que alguns chamam o sexo fraco...
posted by Ursdens @ 3:08 da tarde   2 comments
terça-feira, fevereiro 16, 2010
Justice - Stress
Um dos melhores videoclips da última década. Fiquem com o vídeo oficial. E sem censura...

posted by P. @ 6:48 da tarde   0 comments
domingo, fevereiro 14, 2010
"críticas sobre os filmes nomeados para os óscares deste ano..."
o blog não tem tido ritmo algum, é certo, mas aproveito o desafio que aquelabruxa lançou no post anterior e deixo aqui o que penso:

A Serious Man (dos Coen) e The Blind Side, com a Sandra Bullock, são os dois filmes, dos dez nomeados, que não tive oportunidade de ver.

Estou mais curioso com o dos Coen, é uma questão de gostos. Mas vamos aos que vi.

The Hurt Locker.

Surpreendeu-me de várias maneiras e já tinha lido umas quantas críticas quando tive oportunidade de o ver. A Kathryn Bigelow captou a guerra de uma forma tão solta, tão bruta e tão real, sem nunca parecer doutrinária. A coisa é mais simples do que podemos pensar. O trabalho daqueles soldados é desmantelar bombas portanto não há um único que passe o dia sem ser em risco eminente de morrer. Mas cada cena que nos é dada serve como retrato tenso, sem heróis, sem lições de moral. A guerra é um vício e isso entende-se cedo. No centro temos três soldados. Um que já está a entrar numa previsível fase pós-traumática, um segundo que é profissional e que tem, genuinamente, medo de morrer, e um terceiro (Jeremy Renner, uma nomeação ao óscar que apreciei especialmente) que já está para lá de salvação. É melhor soldado principalmente porque parece já ter morrido. A guerra é um vício. E o que nós temos é o dia a dia de um conflito que implica choque cultural (e isso é-nos mostrado), tensão (e temo-la constantemente), horror que não é gratuito e lições nada condescendentes. A guerra também pode ser mais monótona do que o cinema costuma mostrar e há uma cena no deserto em particular que capta isso na perfeição. A fotografia é fantástica e a Bigelow consegue, sendo tecnicamente excelente, nunca deixar de ser discreta e dar espaço aos seus actores. É um forte candidato e não me chateia, de todo, se vencer.

Avatar

Avatar é o óbvio. O James Cameron tem uma capacidade muito grande de estoirar orçamentos, garantindo espectáculo. MAs não é à la Michael Bay, nada disos, porque o Cameron é verdadeiramente inteligente. Basta pensar no Terminator 22 e ver que há humanismo naquele robot e que no centro da história está uma relação de mãe e filho que sobrevive a tudo o resto. Pensa-se no Titanic (que, pessoalmente, não suporto) e há imponência técnica mas no centro está sempre a história de amor. Avatar é, sem dúvida alguma, um portento técnico. É uma experiência rara em 3D e que não deve ser colocada de lado. É um verdadeiro acontecimento nesse sentido que toda a gente deve ver. E continuam a lá estar noções muito terra-a-terra (amor, o (des)_conhecimento do outro, etc.). Mas em termos de história é básico, profundamente báscio. Aconselho toda a gente a ver o filme, sem dúvida. Não o tratem é como uma história por aí além, porque não é. E não se trata de simples comparações a Pocahontas, Danças com Lobos e mais dez mil histórias semelhantes que já se viram, é algo mais do que isso, é a ironia de haver tanta tecnologia a ensinar-nos a respeitar a natureza, são as interpretações que desaparecem por trás do azul e é, naturalmetne, todo o hype típico de pop cultura que tiraniza o filme. Avatar deve ser desmistificado. Fantástico, que é, em pormenores técnicos, é uma história simples e, na melhor das hipóteses, mediana. Não é à toa que não é nomeada em argumento, nem actores. Se ganhar melhor filme é porque tem mais fama do que nível. Merece muito óscar mas quero ver quem vai acusar o Slumdog de ser básico caso o óscar vá para avatar. Tem muito mérito, mas há que discernir as coisas, apenas isso.

An Education

Óptimo. Um boa surpresa (daquelas que se tem quando não se sabe o que esperar). O argumento é subtil e de uma força e de uma inteligência intocáveis. Não é um filme particularmente complexo e não tem grandes hipóteses de ganhar. Mas também não é nada óbvio e não incomoda nada vê-lo na lista. A realização é talvez a mais discreta entre todos os nomeados e não é por isso que é menor, pelo contrário, porque aqui importa aproveitar os diálogos (Inglaterra, anos 60, no sotaque e no conservadorismo), as interpretações e a forma como as personagens vão mudando e ajustando à nossa frente. É um filme com muita coisa coquette à mistura, mas sem cair no óbvio. E Carey Mulligan é uma excelente descoberta enquanto actriz. Eu não a conhecia. Agora dou-lhe atenção. E ela também merece a nomeação.


District 9


A razão pela qual este ano há dez nomeados é precisamente por este tipo de filme. Este é o sci-fi que chegou aos óscares. Se tivesse sido o Star Trek também não me incomodava nada. Em comum têm o facto de serem dois blockbusters com cabeça, mostrando que nem toda a gente tem de ser oca perante o grande ecrã. E que o entretenimento pode ser puro, ritmado e explosivo, sem ter de ser burro (ocorre-me o aborto de filme que é o GiJoe - não importa aqui referir por que o vi -; não falo do Transformers 2 porque evitei ver). District 9 tem algumas novidades no sci-fi mainstream. Dá-nos aliens que não queriam cá estar mas que estão cá preso e que passados anos se tornaram refugiados. Estes refugiados representam muito que são as guerras no nosso mundo mas ali, na África do Sul qua saiu do Apartheid, são também um ponto de partida excelente para comparar e até satirizar o racismo - mais aidna quando o racismo é, mais do que um sentimento, uma convenção.
O actor principal, Sharlo Copley, está excelente e este é o tipo de blockbsuster que é giro ouvir comentários quando se sai da sala de cinema. Eu tive o prazer de ouvir cosias hilariantes como "Ah aquilo parece tudo irreal" (como se ser plausível fosse uma obrigação do cinema). Falo por mim mas acho que muita gente viu District 9 ao engano. Pensando que era só seriedade - e não é, ou que era só entretenimento - coisa que também não é. O filme tem mensagens políticas sem se eprder nisso, tem emoção sem se tornar absurdo ou lamechas, tem espectáculo sem viver apenas disso. É uma lição autêntica que se dá Hollywood: como fazer um blockbuster com menos dinheiro? APenas com inteligência e um argumento capazes de outros voos. MErece a nomeação e é um gozo de filme.

Precious

Precious é perigoso. Porque tem tanto drama e tanto sofrimento poderia ser visto como simples dramalhão, cheio de boas intenções, muito moralismo e um final feliz. Valha-nos o facto de ser muito mais ambíguo do que isso. É um filme de outra américa negra, a do gueto, mais pobre, com muita história de subsídios, abusos e oportunidades perdidas à mistura. Não gostei de uns quantos pormenores na realização (os sonhos da Precious, armada em super-estrela, por exemplo - pareceu-me à pedreiro), mas o filme é excelente porque nem tudo combina e está cheio de imperfeições. O filme não nos obriga a aceitar como bonito o que não achamos bonito. Pelo contrário. É mesmo a história de como o grotescto se assume sensível. Precious não é apenas obesa. Foi violada pelo pai, tem uma filha mongolóide, outro bebé a caminho. Ambos filhos do pai dela. A mãe agride-a e acha que esta lhe roubou o homem. Ela é gozada, é pobre e nem na escola deve poder ficar. E até a vemos a roubar um balde nojento de frango gorduroso, logo pela manhã, para depois acabar a vomitar. Novamente, nada na personagem é suposto ser bonito mas cativa-nos assim mesmo. Precious e a mãe têm duas bem merecidas nomeações como actrizes. Mariah Carey,q ue não suporto como cantora ou actriz, está verdadeiramente surpreendente. E há aqui muito humanismo. É imperfeito e, passe o óbvio, humano. Virou fenómeno indie mas isso é um pormenor. Não deve servir como poster-boy para o cinema indie (há melhor) mas não deve perder o seu mérito. Porque o tem. Se ganhar, também não chateia. É hollywood a mostrar-nos que sabe dar valor à diferença. E isso vale a pena.

Inglourious Basterds.

É o meu favorito. Nem me interessa que ganhe os óscares porque já acho piada o Tarantino lá estar. Cada plano, cada personagem, cada cena de Basterds é razão para se falar de Cinema. Cabe ali tudo, da história do cinema ao ecletismo do próprio Tarantino. Por ser um filme de guerra e por ser de Tarantino, talvez muita gente estivesse à espera de algo diferente. A verdade é que os basterds propriamente ditos aparecem pouco e passamos o filme praticamente todo em conversa. Mas é um tributo raro ao cinema. Realizadores alemães e pormenores de diálogos (os franceses respeitam o cinema, os americanos não), um jogo com muito cinema à mistura, um crítico de cinema que é herói de guerra, bobines a tentar mudar o curso da história, um filme de propaganda nazi feito por um judeu (Roth), tudo aqui é cinema e é Tarantino no seu estado de graça. Adoro tudo o que o Tarantino fez (é mesmo de adoro para cima, o que acho do cinema dele), mas ele atinge aqui o topo. É absolutamente genial, isto com todos os prolongados diálogos, a curiosa divisão por capítulos (Tarantino já a transformar-se em escritor) e quase-ausência de combates num filme de guerra. Foi para mim o melhor de 2009 e ponho-o em qualqeur lsita da década (coisa que já será muito discutível, mas o bom do cinema e o bom do cinema de Tarantino em particular é precisamente essa discussão que provoca). Quando disso no início que não me interessa se ganha os óscares, estava a mentir. PElo menos, em parte. A excepção é Christoph Waltz, o Coronel Hans Landa. Se há um óscar que está dado À partida é este. É uma interpretação que fará história, numa personagem que fará também história. É insulto se Waltz não ganhar o Óscar.

UP

O ano passado Wall-e poderia perfeitamente ter ganho o Óscar de melhor filme. UP surge depois de Wall-e e tem o mérito de sobreviver, dignamente, ao anterior. A Pixar dá-nos lições sobre o potencial do cinema de animação. Traz-nos histórias de outro calibre, com personagens incomuns e argumentos inteligentes. São filmes que, mais do que quaisquer outros, são para jovens e graúdos - passe o cliché. UP não respeita só essa linhagem da Pixar como é do melhor que já fizeram. É hilariatne, ritmado, sabe trabalhar com o 3D sem nunca eprder a sua força narrativa, tem personagens tremendamente bem conseguidas, comic reliefs e lições (nada demagógicas) oportunas. Já ganhou o óscar de melhor de animação (com o Ponyo a não marcar presença nem valia a pena discutir-se mais nada) e é merecida a presença aqui. Serve de exemplo e compensa a ausência do Wall-e na lista do ano passado. Apesar de toda a sua força e consistência apetece lembrar a primeira cena de UP, em que vemos a vida do casal, apenas com música, sem diálogos numa história de uma vida condensada em poucos minutos, só com a força das expressões das personagens. Cinema é também aquela força e aquela capacidade. UP, se não for o melhor, tem pelo menos a melhor cena de 2009 - e das mais especiais dos últimos anos. É verdade, Pixar did it again.

Up in the Air


Jason Reitman não deve ser menosprezado. O homem é inteligentíssimo. Thank you for smoking era boa amostra e logo numa américa tão hipócrita e higienizante com o tabaco. Seguiu-se Juno, a história da adolescente que engravida, premissa tão simples trabalhada com drama e humor da melhor das maneiras. E agora mais um passo à frente, com up in the air. O filme é brutalmente oportuno (resta saber que força terá daqui a uns anos. Continuará a ser tão original?). Tem o melhor George Clooney de sempre - e não, ele não é sequer banal, como muita gente o pinta. E o filme nunca é óbvio. Quando se parece aproximar perigosamente da comédia romântica, Reitman supreende-nos. Tem sentido de humor e drama a conviver, e bem, lado a lado. E é um exceletne exercício sobre a solidão, sobre os tempos actuais em que o trabalho nos consome mais do que se imagina. É sobre relações e aparências, também. E é um livro em aberto, com muito para se concluir, numa jogada inteligente por parte de REetman. É daqueles filmes que se aconselha com algum à vontade às pessoas. A seguir a avatar e hurt locker é talvez o terceiro candidato mais forte aos Óscares. É capaz de não ganhar. Mas se ganhasse também não aborrecia ninguém.

E é isto. Os textos são capazes de estar longos e ter alguns erros (falta de "releitura", tss tss). Mas foi o que se arranjou.
posted by P. @ 5:20 da tarde   3 comments
 

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