terça-feira, junho 17, 2008 |
A Liturgia do Sangue |
Caminharemos de olhos deslumbrados E braços estendidos E nos lábios incertos levaremos O gosto a sol e a sangue dos sentidos.
Onde estivermos, há-de estar o vento Cortado de perfumes e gemidos. Onde vivermos, há-de ser o templo Dos nossos jovens dentes devorando Os frutos proibidos.
No ritual do verão descobriremos O segredo dos deuses interditos E marcados na testa exaltaremos Estátuas de heróis castrados e malditos.
Ó deus do sangue! deus de misericórdia! Ó deus das virgens loucas, Dos amantes com cio, Impõe-nos sobre o ventre as tuas mãos de rosas, Unge os nossos cabelos com o teu desvario!
Desce-nos sobre o corpo como um falus irado, Fustiga-nos os membros como um látego doido, Numa chuva de fogo torna-nos sagrados, Imola-nos os sexos a um arcanjo loiro.
Persegue-nos, estonteia-nos, degola-nos, castiga-nos. Arranca-nos os olhos, violenta-nos as bocas, Atapeta de flores a estrada que seguimos E carrega de aromas a brisa que nos toca.
Nus e ensanguentados dançaremos a glória Dos nossos esponsais eternos com o estio E coroados de apupos teremos a vitória De nos rirmos do mundo num leito vazio.
Ary dos Santos |
posted by P.R @ 1:32 da tarde |
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