sábado, junho 07, 2008
Sex and the City
Não será necessário grande esforço para recordar os tempos em que Sex and the City estreou em Portugal, na SIC, até porque me recordo perfeitamente da publicidade e de alguns comentários que ouvia na época, sobre uma série televisiva bastante sexual, onde era até apresentada com a famosa bolinha vermelha no canto superior direito do ecrã. A curiosidade tornou-se por isso bastante grande, e o seu visionamento obrigatório. Visto o primeiro episódio, percebi que afinal não havia razão para tanto alarido. Tudo bem, estávamos diante de uma série onde o sexo era abordado com uma naturalidade pouco comum na televisão, mas de resto, percebi que iríamos seguir a história de um grupo de personagens (femininas, também nem sempre muito usual) bastante interessantes e diálogos particularmente inspirados. Seis temporadas e muitos episódios depois, a série chegou ao final e, embora sem manter uma regularidade qualitativa particularmente impressionante, foi sempre divertida e interessante de seguir, mesmo nos piores momentos.

Dois anos depois do final da série, eis que se chegou à conclusão de que afinal ainda se poderia esticar um pouco mais a trama de Carrie Bradshaw e companheiras em Nova Iorque, e os seus tormentos com o Mr. Big que sempre lhe atormentou a vida, mas com quem acabou junta no derradeiro episódio. Ora, o filme abre com a decisão de casamento entre Carrie (Sarah Jessica Parker) e Big (Chris Noth), como que caída do céu, depois de terem encontrado um apartamento ideal onde possam viver juntos. Entretanto, Miranda (Cynthia Nixon) vê o seu casamento com Steve estremecido, Charlotte (Kristin Davis) continua a sua felicidade conjugal com o marido e a filha adoptiva e Samantha (Kim Kattrall) está a viver em Los Angeles com o seu namorado actor, mas sempre de visita às amigas do outro lado do país, a quem confessa a necessidade de aventuras sexuais mais aliciantes...

Como fã moderado da série televisiva, entrei no cinema esperando um nível de qualidade ao nível do que me tinha habituado e, mesmo sem grandes rasgos, esperava divertir-me. No entanto, essas previsões começaram a cair por terra logo nos primeiros minutos, onde a introdução das personagens é feita de forma algo atabalhoada, com diálogos e montagens preparados minuciosamente para que, em minutos, o espectador desatento da série pudesse estar a par do que se passava à sua frente. A essa falta de naturalidade na introdução das personagens, onde a habitual voz-off da protagonista deixou de lado as reflexões sobre a vida para se centrar no resumo da história, segue-se uma narrativa bastante desinspirada, que culmina nos preparativos de um casamento para o qual ninguém, excepto Carrie, parece particularmente entusiasmado, muito menos o espectador. Tudo isso atinge o cúmulo em sequências onde pouco mais se faz do que desfilar um monte de marcas da moda, para delírio dos estilistas visados. Com muita honestidade, a primeira hora da longuíssima duração do filme (duas horas e meia, equivalente a 5 episódios da série consecutivos) está ao nível do pior que vi este ano cinematográfico. A partir do casamento, as coisas até se vão compondo, mesmo que narrativamente continuem desinteressantes, há algum espaço para aquele humor corrosivo habitual na série.

Ainda assim, é muito pouco, e o produto cinematográfico originado por uma série que desde sempre se assumiu como transgressora, é demasiado banal. Julgo que não há espectador que duvide do desenlace da obra desde os primeiros minutos, talvez com excepção daquela que sempre se revelou a personagem mais interessante: Samantha. Por outro lado, devo admitir que nunca me senti particularmente empolgado por Carrie e as suas desavenças amorosas, nem na série nem no filme, o que torna a ligação emocional ao filme bastante mais complicada de conseguir, uma vez que todo ele se centra praticamente nela. Em muitos sentidos, simboliza o que de pior tem o feminismo exacerbado, tendência que o filme acompanha, fazendo das personagens masculinas aquilo que muitas vezes é tido como um contra nas personagens femininas no cinema: meros acessórios narrativos, tão vazios de conteúdo quanto as carteiras e os sapatos que desfilam diante de nós. De resto, a abordagem de Michael Patrick King, o criador da série, não está muito distante daquilo que fazia na TV, o que se revela particularmente fatal, uma vez que se torna infinitamente mais complicado controlar o ritmo narrativo para a duração de uma longa-metragem. Talvez seja o filme ideal para os fãs acérrimos da série, mas aqueles que sempre lhe foram indiferente, irão continuar a sê-lo. Aqueles como eu, que lhe achavam alguma piada, irão caminhar nessa linha ténue entre a aprovação e a reprovação. Infelizmente, não sou capaz de aprovar.

posted by Juom @ 5:04 da tarde  
1 Comments:
  • At 12:42 da tarde, Blogger Luís A. said…

    ha series que não deviam saír do pequeno ecrã, pois os resultados sao geralmente episodios de longa duração em grande ecrã. a excepção? Miami Vice:)

     
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