Os The Decemberists são uma das mais fulcrais bandas do panorama do rock alternativo da última década da música norte-americana. Criadores de uma música com particularidades bastante reconhecíveis, poder-se-à dizer que, actualmente, esta é uma das bandas que mais directamente sabe readaptar e trazer para a realidade contemporânea o conceito de trovador medieval, transportando as histórias de princípes, dragões e princesas para os dias de hoje, sem mutar a sua beleza.
Posto isto, não será difícil deduzir que cada novo álbum dos Decemberists é antecipado por uma corrente de expectativas alimentada pelos indíviduos mais ou menos atentos á música independente norte-americana. A antecipação para The Hazards of Love não foi excepção e se se esperava um álbum bastante acima da média e mais um passo em frente continuando a constante reinvenção da banda, dificilmente estas não foram ultrapassadas. A verdade é que estamos perante um álbum que foge a todas as convenções e possui momentos que facilmente podem figurar entre os mais altos compostos pela banda.
A primeira e mais vistosa particularidade desta nova experiência dos Decemberists é que, tal como o anterior álbum, The Hazards of Love trata-se de uma história. Uma história de amor que facilmente pode ser confundida como proveniente da Idade Média, que nos narra um amor improvável entre uma princesa (Margaret) e um habitante da floresta que muda de forma (William). Margaret fica grávida deste ser e vai ao seu encontro novamente. No entanto, a rainha da floresta, mãe de William, não está satisfeita com a hipotética relação entre o casal e fica do lado de The Rake, o vilão que matou os filhos por os considerar uma maldição devido ao seu elevado número.
Se Colin Meloy, o vocalista da banda, se revela inabalável enquanto William e The Rake, atrás não ficam as performances das artistas convidadas. A voz de Becky Stark veste na perfeição a inocência de Margaret, enquanto Shara Worden (mais conhecida por My Brightest Diamond) enquanto Rainha é absolutamente inesquecível nos seus dois mais fulcrais momentos.
A nível instrumental, será de constatar como os Decemberists continuam a dominar com exímia mestria as suas melodias, conseguindo criar momentos de verdadeira tensão, intercalados por situações de aparente calma, proporcionando no meio transições de grande beleza. Poder-se-à ver isto mais especificamente na doce calma de Isn’t It a Lovely Night em contraponto a The Wanting Comes in Waves. Mais interessante será ainda verificar como a fasquia se eleva à medida que nos aproximamos do final do álbum, com uma tensão crescente desde a fabulosa The Rake’s Song até à reprise de The Wanting Comes in Waves, aqui com uma força absolutamente desarmante, para dar depois lugar à acústica The Drowned (The Hazards of Love #4), que não poderia encerrar o disco de melhor maneira. Por Miguel Baptista
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