James Gray iniciou a sua carreira em 1994 com
Little Odessa (que nunca consegui ver, mesmo depois de ter alugado a única cópia existente no meu clube de vídeo, isto porque o meu aparelho decidiu estragar a fita magnética... a boa notícia é que a malta do clube de vídeo lá compreendeu o meu problema e não me obrigou a pagar nova cópia), regressando apenas em 2000 com o muito sólido
The Yards, com o qual este
We Own the Night, estreado 8 anos depois, partilha temas, actores (Joaquin Phoenix e Mark Wahlberg, sendo que no anterior havia James Caan no elenco e agora há Robert Duvall, dois actores “emprestados” de outra saga mafiosa), e acima de tudo uma herança clássica na sua execução, deixando respirar cada plano desta sua tragédia familiar.
Não foi por mero acaso que ali atrás referi
O Padrinho, saga com a qual o filme de Gray partilha mais semelhanças do que a mera escolha de elenco. Refiro-o a propósito de uma certa discussão que tem vindo à tona nos últimos dias na blogosfera e que passam pelas comparações entre
We Own the Night e a obra de Scorsese, quando me parece mais evidente que Gray está mais virado para Coppola – isto para comparar estes cineastas da mesma geração, uma vez que também Coppola se referiu à sua própria trilogia com uma abordagem que prestava homenagem ao cinema clássico de gangsters de Hollywood. Ou seja, ao contrário de Scorsese, sempre interessado em explorar e desconstruir limites, James Gray é bastante linear na sua narrativa e na abordagem visual. Mas acima de tudo, parece-me que o realizador nos conta esta fortíssima saga familiar com uma garra e uma segurança que valem por sí, sendo que o argumento da sua autoria é já um excelente exemplo de grande
storytelling.
No fundo, temos uma situação clássica de bons contra maus, sendo que o seu protagonista se encontra precisamente entre os dois campos. Joaquin Phoenix é Bobby, o gerente de um grande clube nova iorquino controlado pela máfia russa. O seu pai (Robert Duvall) e o irmão (Mark Wahlberg) são polícias dedicados que precisam da sua ajuda para travar um dos maiores traficantes de droga da cidade. Como o seu pai lhe diz a certa altura, Bobby terá de escolher um lado pelo qual lutar, e é nessa decisão que reside a força dramática de
We Own the Night. De um lado, o bem e do outro o mal, dois campos distintos bem definidos desde os primeiros minutos onde se corta de uma festa para a outra, em que percebemos as diferenças de estilo de vida: de um lado o perigo e a luxúria, e do outro a “monotonia” e a justiça. Para Bobby, a questão vai mesmo mais além, tendo por um lado a sua verdadeira família e por outro a que o acolheu na noite. Nesse aspecto, a figura da sua namorada Amada (Eva Mendes) assume também grande importância como um ponto de equilibrio entre os dois lados – partilha os excessos de Bobby e tem na tradição familiar uma muleta sólida.
Sem ser constantemente brilhante, a realização de James Gray é, essencialmente, bastante segura, sem grandes artifícios desnecessários, perfeitamente adequada à sua história mas, a espaços, atira-nos para cima com excelentes momentos cinematográficos, verdadeiramente marcantes e arrepiantes, seja pela arquitectura dos planos, seja pela costrução da tensão, seja pela gestão das camadas dramáticas. É um filme de uma firmeza impecável, onde não parece haver um minuto em excesso ou em defeito, contando a sua história da melhor forma: a simples. Depois, Gray é também excelente na direcção do seu elenco, sempre bastante competente, embora o destaque tenha de ir quase todo para Joaquin Phoenix, tão bom em modo explosivo quanto no máximo de contenção. É, desde já, uma das interpretações do ano, numa obra que não merece cair no esquecimento.
Não poderia estar mais de acordo com a tua opinião.
Infelizmente, este filme, que eu considero uma pequena obra de arte, tem sido massacrada pela crítica nacional e internacional. Sinceramente não consigo entender.
É sempre bom que alguém partilhe da minha opinião.
Abraço